sexta-feira, 15 de abril de 2011

AFORÍSTICOS (I)

As obras dos homens não cessaram de crescer, ainda mais desde o surgimento deste admirável mundo novo. São inauditas suas façanhas, verdadeiramente grandes, no bom e mau sentido. (Atravesse, em seu pensamento, à guisa de sinóptica recapitulação, tão somente o século XX e o albor do século XXI...) Algum tempo viu ou foi capaz de sonhar o que os nossos olhos hoje veem?

O homem é, sem dúvida, um animal imprevisível. Só dele podemos esperar o inesperado. (Deste serzinho espera-se tudo, inclusive nada!) Por isso não me espanta que quase sempre nele estejam de mãos dadas o melhor e o pior.

Mas esta assombrada criatura é ainda um ser de esperança. Pode inclinar-se à realização máxima – própria e possível – de seu ser.

Se às vezes perverte-se, como quando é capaz de violências extremas (tem-se exemplo recente disso...), o verdadeiro bem nos é ainda possível. Há, portanto, a plausibilidade de uma pura e gratuita harmonia nas relações universais.

...

Em escala menor, todos nós reproduzimos de alguma forma em nós mesmos e em nossa completa existência fenomênica os dramas do mundo. Em nós mesmos, quero dizer, em nosso ser uno, reflete-se o mundo, tal como um espelho reproduz a imagem do que a ele se contrapõe. Estas coisas não são a mesma coisa, pois distintas hão de ser a coisa em si mesma do espelho, a do que a ele se contrapõe, e a própria imagem nele refletida. Isto é presumível, tanto mais se somos capazes de tão vasta e calidoscópica refratação.

A nossa experiência pode ou não manifestar, por meio de atos concretos, aquilo que nos afeta e o que queremos ou, em mais preciso rigor, podemos querer. Meus atos também são o que sou, com o que de fora de mim se coloca a mim de modo efetivo ou se interpõe entre mim, meu agir deliberativo, e o mundo fora de mim sem minha direta influência.

Assim, os dramas do mundo são sua história e, mais claramente, o presente carregado da sua escomunal ancestralidade. Este presente engendra-se pela causalidade da própria origem próxima e remota, e tem-se a si mesmo prenhe de um sempre promissor porvir. A isto chamamos abstratamente de futuro.

Em curso nos situamos, como protagonistas de nossa própria existência – assim o cremos, naturalmente – ou como meros coadjuvantes de um evento maior. Simultaneamente somos, com maior ou menor intensidade, protagonistas e coadjuvantes. Pois de quem se poderá dizer apenas uma destas coisas?

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 15 de abril de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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EXCEPCIONALMENTE HOJE ANTECIPA-SE A PUBLICAÇÃO DE SEGUNDA-FEIRA.

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