segunda-feira, 8 de novembro de 2010
MOACYR SCLIAR – entrevistado por Antonio Fabiano
Moacyr Scliar, membro da Academia Brasileira de Letras. Fotografia de seu Site Oficial. Reprodução autorizada pelo Autor.
ANTONIO FABIANO: Moacyr, você é membro da Academia Brasileira de Letras e um dos nossos “imortais” mais conhecidos. Você é muito querido por um vasto público, e sua popularidade é notória, tanto no Brasil, como em outros países onde os seus livros são traduzidos e lidos com grande repercussão. Eu quero dizer que estamos diante de um “imortal” muito próximo dos “mortais”, o que é maravilhoso mas nem sempre comum nas Academias de qualquer lugar do mundo. Como você interpreta esta “imortalidade” que lhe foi conferida, e a que atribui tal capacidade de interação com o público, especialmente com o público jovem?
**MOACYR SCLIAR** Naturalmente sinto-me orgulhoso de fazer parte da ABL, instituição fundada por Machado de Assis, que reuniu muitos dos melhores escritores brasileiros e que tem um papel importante em nosso contexto cultural. Mas devo dizer que isso em nada interfere em meu trabalho literário. Distinções e honrarias são fugazes, a literatura e o leitor permanecem. Portanto, ao escrever penso no leitor, sobretudo no leitor jovem, e assim mobilizo o jovem leitor que um dia fui; quero proporcionar a quem me lê o mesmo prazer e a mesma emoção que o garoto Moacyr sentia ao ler.
ANTONIO FABIANO: Como escrever tanto, oitenta livros ou mais, em tão variados gêneros, sem comprometer a qualidade dessa literatura?
**MOACYR SCLIAR** Em primeiro lugar trata-se de trabalhar muito, e eu faço isso. Acredito que escritor é o cara que escreve e, portanto, sempre que posso estou escrevendo. Fui médico durante muito tempo e aprendi a organizar-me, usando todo o tempo livre para estudar ou escrever. Mas sou exigente com o que faço: escrevo e reescrevo constantemente, e não hesito em deletar o que me parece ruim, e faço isso com muita frequência.
ANTONIO FABIANO: De onde vem a fecundidade rara de sua escrita?
**MOACYR SCLIAR** Do prazer que me dá a arte de mexer com as palavras. Sempre fiz isso, e acabei, claro, desenvolvendo uma boa habilidade neste sentido. Por outro lado, ideias felizmente nunca me faltam; meu problema é, ao contrário, selecionar as melhores ideias entre as muitas que me ocorrem.
ANTONIO FABIANO: Você nos disse outro dia que, quando viaja, identifica-se nas fichas dos hotéis como “médico”. Declarar-se apenas “escritor” é um problema, porque alguns não entendem isso como profissão ou algo confiável... (risos) Fala sério? No âmbito social, ser escritor no Brasil ainda é algo difícil? O ofício de escrever pode ser de fato encarado como uma profissão séria?
**MOACYR SCLIAR** Em nosso país, o ofício de escritor nunca foi levado muito a sério, porque raros eram os escritores que podiam viver da literatura. Isto está mudando, mas é irrelevante; se se trata mesmo de uma profissão não importa muito, o que importa é a qualidade do que a gente escreve.
ANTONIO FABIANO: Já que falei... Como um bem sucedido médico de saúde pública se tornou escritor? Em que o fato de ser médico interferiu no de ser escritor? A experiência do primeiro ofício foi preponderante para a formação do homem de letras hoje maduro?
**MOACYR SCLIAR** Sempre gostei da medicina em geral e da saúde pública em particular. E aprendi muito nas duas áreas, sobre a condição humana e sobre a realidade brasileira. E este conhecimento ajuda muito no trabalho literário. A gente fala com conhecimento de causa, por assim dizer.
ANTONIO FABIANO: Quais outras influências você percebe em sua obra?
**MOACYR SCLIAR** Percebo as influências de escritores que, em diferentes fases de minha trajetória, fizeram minha cabeça: Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, Clarice Lispector, Franz Kafka...
ANTONIO FABIANO: Ao ver uma obra sua adaptada para o cinema, teatro ou televisão (transição às vezes perigosa), o que sente? Onde termina a paternidade do autor e começa a autonomia da obra?
**MOACYR SCLIAR** Tenho vários textos adaptados, e aprendi uma coisa: aquilo que a gente vai ver no palco ou na tela é diferente daquilo que foi escrito. É inevitável, faz parte do processo, por isso, dou inteira liberdade a quem vai fazer a adaptação para trabalhar o texto como achar melhor. Posso ajudar, se for necessário, mas não vou “censurar” nada.
ANTONIO FABIANO: O que Moacyr Scliar sempre lê?
**MOACYR SCLIAR** De tudo. Livros, de ficção e não ficção, jornais, revistas, textos de Internet... Sou um leitor compulsivo e o que está em letra de forma sempre me atrai.
ANTONIO FABIANO: Do alto de suas conquistas, que síntese faria da vida pessoal e profissional?
**MOACYR SCLIAR** Eu diria que foi uma vida de esforços, uma vida gratificante, mas ainda não plenamente realizada: continuo estabelecendo objetivos a serem alcançados.
ANTONIO FABIANO: Pode dizer uma palavra para quem é mais jovem e pretende tornar-se escritor?
**MOACYR SCLIAR** Que leia muito, que escreva bastante, que busque ajuda, por exemplo em oficinas literárias, que divulgue nos meios que estiverem a seu alcance, incluindo a Internet, que concorra a todos os prêmios literários possíveis, e que, sobretudo, tenha confiança e tenha esperança.
ANTONIO FABIANO: E a seus fiéis leitores, o que diria?
**MOACYR SCLIAR** Muito obrigado. Vocês deram sentido à minha vida!
ANTONIO FABIANO: Moacyr Scliar é...
**MOACYR SCLIAR** ... um escritor que busca, com esforço e humildade, o caminho da boa literatura.
Moacyr Scliar – Antonio Fabiano
Novembro de 2010
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
Legal! Eu gosto desse cara!
ResponderExcluirPedro
Viva o Sul!!!
ResponderExcluirMais que isso, querido anônimo, viva o Brasil!!! Moacyr Scliar é um orgulho nacional. ANA
ResponderExcluirOlá meu sempre amigo,
ResponderExcluirComo eu sou fiel ao seu blog de entrar pelo menos duas vez ao dia para conferir ansioso com que você nos brindará e, hoje não foi diferente sempre algo novo e interessante. Primeiro com qu essa bela sinopse de Moacyr e, depois com essa bela entrevista que nos enriquece e também aumenta o nosso conhecimento. De fato como dizia os filósofos quanto mais vamos conhecendo e aprendendo mais perto de nossa ignorancia vamos chegando. Obrigado amigo por nos brindar com tamanha riqueza literária e continue sendo essa gande pessoa e o eximio escritor que é. Tudo de bom sempre e meu abraço. E também sempre minha amizade sincera.
Atenciosamente,
Fellipe da Silva Toledo.
Eu amo o Moacyr. Obrigada, Antonio, pela bela entrevista. Sou leitora assídua de seu blog. Maíra
ResponderExcluirAntonio Fabiano, muito obrigada por manter sempre elevado o nível desse blog. Excelente entrevista! Parabéns, Moacyr, pela brilhante carreira! Beijos, meu amores... Adorei!
ResponderExcluirMuito agradecida. Ambos são meus companheiros, levo-os aos meus alunos, levo-os em minha alma,
ResponderExcluirInspiração pra nossa geração. Obrigado Moacyr por nos ajudar e se importar com os novos escritores.
ResponderExcluirTambém a Antonio, obrigado pela entrevista. Ficou muito boa! Um papo legal.
ResponderExcluirEstá aí um belo diálogo. Parabéns!
ResponderExcluirSim, é verdade: Moacyr é motivo de grande orgulho para todos nós brasileiros! Nós o amamos!...
ResponderExcluirLi a matéria sobre a vida dele e deixei um comentário lá. Gostei muito da entrevista! Estou fascinado... AL
ResponderExcluirMuito elegante, nosso querido Moacyr na foto! Bela entrevista! Valeu, Antonio Fabiano! Lima
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