quinta-feira, 28 de novembro de 2024

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

terça-feira, 29 de outubro de 2024

domingo, 27 de outubro de 2024

BEIJO ROUBADO

Se anda na chuva

quem se importa?

Já beijou na chuva

um beijo roubado –

a coisa mais pura!

A rua é um rio

de lama

que leva para o açude

lá onde o sol se põe

qual ovo

de galinha.

Antonio Fabiano

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

LER

 "A leitura do mundo precede a leitura da palavra."

Paulo Freire. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1989.

terça-feira, 30 de julho de 2024

PÔR DO SOL - Antonio Fabiano

O pôr do sol da capital mineira

é macio e escoa

como café passado no pano

bem à moda antiga.

Tem uma coisa que tem!

Nada de braçada este sol

sobre o triângulo

como se derramasse sem pena

tinta vermelha para todos os lados.

Perguntem, mineiros do norte!

Respondam, mineiros do sul!

Eu, que agora sou do vale

expatriado desde a eternidade

de todas as capitais:

não pergunto nada

não respondo nada.

Olho o pôr do sol

com o coração das gerais.

Esta tarde é tão bonita

que eu queria guardá-la numa caixinha

para não esquecer nunca mais...

Súbito, o barulho dos carros desaparece

os prédios encolhem

as palmeiras crescem

uma carroça atravessa a travessa

entra e desfila na praça

grassa e atropela um menino

que se levanta sorrindo

mais lindo do que quando caiu.

São milagres de Minas

e no horizonte vermelha ainda

o pôr do sol da capital.


Antonio Fabiano


domingo, 30 de junho de 2024

Confúcio, Os Analectos


Pixabay

"Quando o vento sopra,

a grama se curva."


sexta-feira, 31 de maio de 2024

GELEIRA


 

pixabay



A vida é escura e esquiva.

 

Um enxame de abelhas corta

meu pensamento

abre aos ponta pés a porta.

 

Meu coração está guardado

bateu

se gastou e escondeu.

 

A vida é fria.

 

Geleira de tão dura

se parte.

 

Eu digo palavras puras

como nas madrugadas

em que na rua alguém diz:

 

a vida é um penhasco

 

eu pulo.

 

Antonio Fabiano

terça-feira, 30 de abril de 2024

PLÁTANOS


Pixabay

 

Amo de amor sem cura

plátanos

 

vem a tarde sobre eles

de outono

 

folhas ficam de outra cor

além paleta

 

passeios se vestem

desse encanto

 

letras arcanas

mãos moucas de vento

 

no inverno

esqueletos nus ao infinito

 

amo

amo.

 

Antonio Fabiano


terça-feira, 12 de março de 2024

A Different Kind of Love - Caroline Wennergren

Provided to YouTube by The Orchard Enterprises ℗ 2005 Plugged Music AB

domingo, 10 de março de 2024

AMIGOS - Myriam Coeli


Os meus amigos que têm mais de 30 anos,

têm menos de trinta dinheiros.

Os que têm menos de 30 anos

não chegam a ter três dinheiros.

Eles enfrentam a poluição, a dor,

a fome e a esperança.

Navegam em ônibus, os braços

erguidos, apoiados em argolas

– pássaros que ensaiam o voo

que os levará à rotina onde manipulam

máquina, enchem papéis com letras e carimbos.

Meus amigos sabem que a vida não é fácil

embora se enjaulem em salas calafetadas

onde o ar se condensa.

Eles enfrentam todos os dias

o gigante do progresso para que

as suas famílias se alimentem,

se vistam, sorriam e falem em civismo.

Mas meus amigos são livres.

Não lhes prendem o ouro e a cobiça de todos os poderes.

Eles são ricos em seus mundos subjetivos.

E eu me visto de silêncio para escutá-los.

São os momentos mais puros de poesia

quando as suas verdades explodem como rosas

ou estrelas no céu.

Daqui saúdo os meus amigos

que não tendo trinta dinheiros

jamais me venderiam como se fossem Judas.

E mais aos que, tendo três dinheiros,

seus talentos sendo pobres de espírito,

alcançarão o reino dos céus.


Ave, Myriam (1984)


quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

MYRIAM COELI


 
Myriam Coeli (1926-1982)


CANTO DE ESPERA PARA O PRIMOGÊNITO


Artífice, a mãe se completa moldando o filho de sua argila

– em seu invento ela se multiplica, ousada, para outro espaço. 

A suavidade de seu ventre improvisa ninho de rouxinóis 

de inesperados trinos e notas musicais

para o filho – pássaro cego – navegar nos corredores de sangue.

Com impossíveis cristais inventa canções e embalos

e torna alegre o pesado silêncio de suas entranhas.


Onde a semente germina e a seiva cresce, lentamente com a voz

– um lírio, talvez, uma espiga de dourado trigo, desabrochará.


CANTO DE ESPERA PARA O SEGUNDO FILHO


O filho cresce de antiga semente

e se agita em meu ser com libações de pássaro.

A argila que o inventa torna-o semelhante e lúcido dentro do tempo

que o completa e o reclama, integral e ousado.


O Sangue, o Gesto, a Palavra, a Humana Contingência

e essa argamassa de Poesia – minha herança –

espreitam de seus mistérios e se integram à ousada forma.


Bem-aventurada em meu afã de criar

eu me engrandeço de humildade de não merecer a Dádiva

e glorifico e exulto o Homem que há de vir.    

__________________

COELI, Myriam. “Branco & Nanquim: Obra Poética”, org.: Cristiana Coeli Goldie & Elí de Araujo. Natal: Sol Negro Edições, 2018.


segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

MURO

 

O coração do mundo é um muro enorme

 

a palavra bate

 

e

 

se

 

e s f a c e l a

 

– coroa-de-monge

ao vento –

 

inútil, inútil

passageira...

 

quebra-se no rochedo

a água

imóveis

 

quebram

-se

 

falésias

 

heras imaginárias

 

direito

 

onde?

 

último raio

última flor

último pássaro

 

pausas

humanitárias

 

não vêm

 

diplomacia

 

falha

 

brilho

brilho no céu

 

brilho

 

 

brilho

 

não de estrelas

 

brilho

 

cavalo de vento

 

brilho

 

mísseis a embalar

o sono de crianças

palestinas.


Antonio Fabiano