Jornal SulBrasil
Chapecó,
Quinta-feira, 20 de Julho de 2017
Ano 23
Edição 6.926
Fronte Cultural
...E HAJA
PÉS!...
Por Silvério
da Costa
“Nas Pontas
dos Pés” é o título do livro que acabo de ler. O seu autor chama-se Antonio Fabiano, um
poeta natural da Paraíba, que mexe com o imaginário dos leitores, fazendo-os
pensar e enchendo de orgulho a sua geração.
“Nas Pontas
dos Pés” é uma obra que permeia o lado existencial da vida e suas
contrariedades, exaltando a natureza, a solidão, a saudade, as discrepâncias
sociais e até a morte, como símbolos poéticos, através de palavras que se
identificam com a linguagem existencial, revestida por um viés típico da
contemporaneidade, ancorada num conceito todo seu de poetar, com um ritmo
empolgante, fincando na musicalidade das palavras e revestida de visionária
efervescência poética, inerente ao seu processo criativo com versos e poemas de
dimensões espaciais diferentes e efeitos estéticos que deslumbram!
O autor
chega, até, a retroagir no tempo, trazendo para o presente imagens do seu
passado, preservando uma linguagem poética densa, às vezes, até, enigmática,
mas concebida, sempre, de acordo com os preceitos poéticos que norteiam a arte
de poetar, usando, inclusive, a metalinguagem para falar do próprio poema.
Está, pois, de parabéns o autor! Mas... melhor que falar dele é ler seus
poemas! Vejam...
TRANSGRESSÕES
Papai
queria que eu fosse Doutor.
Me
fiz poeta...
Foi
tão constrangedor!
Mas
disfarçaram.
Depois
pediram um neto.
Eu
disse: Padre.
Mamãe
levou três dias só chorando
E
quase um ano pra se recompor.
A
minha vida foi a um só tempo
Pequena
e grande
Em
suas transgressões...
O
que direi nesta altura
Aos
que pedirem conta da minh’alma?
APÓCRIFOS
A
letra mata
Mas
também dá vida.
Sei
o que quer dizer
Fora
do cânon
Em
meu mundo e livro apócrifos:
A
palavra se fez carne...
Escrever
dói.
Contudo,
quero!
ESTRIDÊNCIA
Há
dias de sagrado ócio
Em
que a vontade é de
Não
fazer mais nada
Só
beber a estridência de estar aqui
Como
quem bebe o canto
De
cigarras e grilos
Brindar
sua canção
Às
vezes tão incômoda
Como
a vida
Esta
vidinha
Que
não trocamos por nenhuma
Das
eternidades.
O CORPO
O corpo nasce
E se expande
Em sua natureza física
E psíquica.
Pelas ruas de suas veias
Trafegam carros de sangue.
Nos pés põe meias.
O corpo ama
E brinca de se esconder.
Veste-se de beleza
E despe-se
Com igual destreza.
Finge que é eterno
– e talvez seja.
Deitado
Dorme e sonha
O que deseja.
A VIDA
A vida
Com sua alegria
Despudorada
Calca
Aos pés
O engenho
De nossos
Comedimentos.
Apurada
Passa
Entre grave e risível.
Ninguém a detém.
DE REPENTE O POEMA
De repente o poema me laça
Me maltrata
Dá na minha cara
Dita as regras
Não se entrega
Me consome
Mostra o dedo
E some...
Rouba o meu sono
Desdenha a técnica
Cospe na língua
Da minha língua
Depois fica mudo
Aí fala fala
Grita geme
E para.
Vem quando quer
Diz que é mulher
Mostra seu sexo
Depois vira homem
Coça-se
Azara
Mija no poeta
E – ops! –
Foi-se embora...
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