(Antonio Fabiano)
Coberto em escombro e silêncio
Grossos tijolos pedras
Jaz entre céu de sol e chão de caatinga
O que sobrou do velho convento
Que séculos mais tarde
A minha jovem descalcês carmelitana pisa.
A chave é tão grande...
Mas onde a porta?
Aportem meus pés
Sobre estas rochas
Como carícia de um canto em cantochão
Que se não as escutarmos
Elas gritarão...
In: MOSSORÓ E TIBAU EM VERSOS: antologia poética. Org. David de Medeiros Leite, José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo. Mossoró, RN: Sarau das Letras, 2014, p. 39.
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“Como esta nota de apresentação se propõe a um comentário geral, não pretendia me deter a um poema especificamente. Mas terei que excetuar para contextualizar o poema “Cantochão”, autoria do frei Fabiano de Santa Maria do Monte Carmelo. É sabido que existe uma ligação histórica entre a Ordem Carmelita e nossa cidade. Câmara Cascudo, em seu livro Notas e Documentos para a História de Mossoró, refere-se à “presença desta Ordem desde o primeiro ou segundo ano do século XVIII, com atividade religiosa regular”, acrescentando que existiam relações amistosas entre frades e indígenas. Os escombros do que foi a morada dos Carmelitas estão lá na zona rural, esperando uma sonhada prospecção arqueológica. Pois bem, em janeiro de 2008, frei Fabiano visitou a capela de Nossa Senhora do Carmo, localizada precisamente no, hoje, assentamento Carmo e, na oportunidade, desejou fazer uma oração memorial junto aos escombros da antiga morada dos seus confrades, mesmo que, para tanto, tivesse que caminhar em meio ao mato, como lhe foi advertido. Aquele momento foi marcante para o religioso, porquanto, anos depois, ele nos remeteu esse poema. Em tempo: a chave aludida no texto lhe foi mostrada por um morador do lugar, que a guarda como relíquia, desde que a casa-convento ruiu.”
David de Medeiros Leite
em fragmento de À guisa de Apresentação,
texto introdutório da importante Antologia.
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