Na verdade há uma coroa de flores amarelas
Posta em meu pensamento.
É um tormento quando há floração:
Durante vinte dias sofro
A beleza me fere e mata!
Mas não era de ipês que eu ia falar...
É de uma árvore sem folhas que eu vi e amei
E que não é ipê. Era sombria e de longos galhos
Ali como se estivesse desde a eternidade
(embora eu não saiba o que é isso).
Talvez pelo meu exaltado estado
De espírito
Fiz de ti frondosa árvore
O objeto de meu puro amor.
E o meu amor haveria de te cobrir de folhas e dar frutos
Apressando as estações
Ultrapassando-as
Superando-se a cada passo
Na crença de que amor que é amor
Não espera nada.
Por quanto tempo eu te amei não sei.
Amor apaga tempo e outras noções.
Eu quando amei parei uma ou três vezes
O sol com a mão no meio céu
Para que fosse pleno o dia e para que durasse
A eternidade (esta que eu não sei).
Mas somos tão pequenos ó árvore!
O infinito nos sufoca e humilha.
E eu que parti primeiro
Traí meu objeto de amor.
Tuas folhas cairão de novo
Como os meus cabelos.
Outros virão e te amarão
Com amor sempre novo
(pois se é amor é sempre novo)
Mas nunca como eu
Que te dei flores frutos
Ainda que humildes
E a paina espalhada pelo chão de um dia
Com beleza macia e vento a te soprar cantares.
De ver-te infindas vezes
(tão obcecadamente)
Eu me ceguei.
A medo eu nada disse
Porque era impotente o meu silêncio
De contemplação.
É maldita a sorte de quem ama árvore eterna
E desce ao fundo de sua raiz.
Mas saberá alguém amar e não descer?
Quando a minha boca ficou vazia de palavras
E mais que ela o coração
Eras ainda bela e altiva!
Eu nunca conheci amor maior
Que o de dar flores a uma árvore
E isto eu te dei.
(FABIANO, Antonio. “Sazonadas”, Rio de Janeiro: Taba Cultural, 2012).
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