O santo enlouqueceu.
Invadiu o céu
Derrubou tronos e estrelas
Cortou as asas de seis anjos
Desacatou a própria Mãe de Deus
E foi-se embora.
Nada de raiar sanguínea e fresca
a madrugada!
O dia apareceu de vez e sem
rodeios,
Só com humanas emergências!...
(Ou era a noite
Desbotando-se em pavores
Que empalidecera?)
Voaram, meteóricos,
Pedaços de nuvens e constelações
Inteiras,
Cacos de manhãs ainda fechadas,
Prematuras,
Coisas mais do empíreo
Pela terra inteira!
(Terra. Terra.
A que já nem era azul
Vista da Lua
Mas daltonicamente
De outra cor!)
Dispersou-se, esbaforida, a corte
toda
Em celestial horror!
Santos velhos, com divinos
cansaços,
Prudentes virgens, com suas
lamparinas,
Mártires, palmas, auréolas
pendidas,
Todos para os seus nichos,
Foram se esconder!
E anjos, que ainda podiam voar,
Partiram em revoada
Pras igrejas de Minas mais
barrocas!
Foi uma coisa trágica e linda de
se ver!...
A santos e loucos não se imputa
culpa.
Restou só Deus, ali,
Fazendo-se de grave...
Meio perplexo,
Contendo o riso (quase a não
disfarçá-lo!),
Boquiaberto,
A olhar o santo, o louco,
Admirado...
(FABIANO, Antonio. SAZONADAS, Rio de Janeiro: Taba Cultural,
2012.)
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