Ainda era cedo e o sol caía das alturas sobre as cabeças dos homens que habitavam o planeta. A frase parecia boa para começo de conversa. Eu gostava de ler Saramago e invejava seu jeito livre de pontuar o livro. Original. Lia os portugueses com paixão desmesurada. Todos. Então meu domingo era como um riso de criança. A frase era boa e ainda cedo o sol caía das alturas como um poema de um dos heterônimos de Pessoa. Eu tinha sotaque e era lindo falar. Lembrança boa é a que a gente não esquece nunca. E ainda quando dói a gente gosta de lembrar.
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 27 de fevereiro de 2012.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
É CARNAVAL
Segunda-feira de Carnaval. Eu gosto das manhãs de Carnaval! Espero que você esteja bem ocupado, caro leitor, em viajar ou divertir-se de outra maneira saudável, a tal ponto que nem tenha tempo de ler esta minha crônica. Pode ler isso após a quarta-feira de cinzas... afinal, ainda é Carnaval no Brasil, mesmo depois!
Em BH tudo é tão calminho, neste período! Um sossego, para quem gosta de Carnaval de outro modo, que não o da folia, do frevo, da rua, do samba das escolas...
O espírito do Carnaval é atrevido: com o devido respeito, entra até em convento! Sem falar que no Rio há o bloco das carmelitas, embora minhas irmãs não tenham nada a ver com isso!
Eu gosto de Carnaval...
Mas aí você escuta, sem querer: “Ai se eu te pego”, do Michel Teló. A música não sai mais da sua cabeça. É uma praga! Você pode até tentar ouvir marchinhas antigas de Carnaval... Não adianta! Escola de samba... Não adianta! Apelar para todos os santos de São Salvador... Não adianta!
Pra completar, um amigo seu liga do exterior e diz: “aqui está tocando, no topo das paradas de sucesso, uma música brasileira”. Adivinha qual? Claro, “If I catch you”, que é a versão em inglês para “Ai se eu te pego”...
Não para aí! Você descobre que em quase toda língua do mundo – inclusive em chinês mandarim e até em hebraico! – esta música foi gravada e faz enorme sucesso. Eu não entendo, mas respeito. Não sou amigo da amargura, nem do contra tudo! Deixa o cara cantar!... Afinal, é Carnaval... “Wow, wow, this way you gonna kill me / Oh, if I catch you / Oh, my God if I catch you // Delicious, delicious”...
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 20 de fevereiro de 2012.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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Em BH tudo é tão calminho, neste período! Um sossego, para quem gosta de Carnaval de outro modo, que não o da folia, do frevo, da rua, do samba das escolas...
O espírito do Carnaval é atrevido: com o devido respeito, entra até em convento! Sem falar que no Rio há o bloco das carmelitas, embora minhas irmãs não tenham nada a ver com isso!
Eu gosto de Carnaval...
Mas aí você escuta, sem querer: “Ai se eu te pego”, do Michel Teló. A música não sai mais da sua cabeça. É uma praga! Você pode até tentar ouvir marchinhas antigas de Carnaval... Não adianta! Escola de samba... Não adianta! Apelar para todos os santos de São Salvador... Não adianta!
Pra completar, um amigo seu liga do exterior e diz: “aqui está tocando, no topo das paradas de sucesso, uma música brasileira”. Adivinha qual? Claro, “If I catch you”, que é a versão em inglês para “Ai se eu te pego”...
Não para aí! Você descobre que em quase toda língua do mundo – inclusive em chinês mandarim e até em hebraico! – esta música foi gravada e faz enorme sucesso. Eu não entendo, mas respeito. Não sou amigo da amargura, nem do contra tudo! Deixa o cara cantar!... Afinal, é Carnaval... “Wow, wow, this way you gonna kill me / Oh, if I catch you / Oh, my God if I catch you // Delicious, delicious”...
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 20 de fevereiro de 2012.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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sábado, 18 de fevereiro de 2012
SÁBADO DE CARNAVAL
"Proibir a alegria em nome da paz social é operação ideológica. A tristeza é sempre de direita."
João Paulo
"Política no meio da rua"
Estado de Minas//Pensar (sábado, 18 de fevereiro de 2012)
João Paulo
"Política no meio da rua"
Estado de Minas//Pensar (sábado, 18 de fevereiro de 2012)
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Livro: BANANAS PODRES - Ferreira Gullar
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
CONCISO
Sem intimismo, estar silente diante do espelho da própria alma.
Isto não é solipsismo. Confira os vocábulos no dicionário.
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 13 de fevereiro de 2012.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
Isto não é solipsismo. Confira os vocábulos no dicionário.
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 13 de fevereiro de 2012.
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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
IRREVERSÍVEL
Desperto no meio da noite e me lembro, sobressaltado, do que eu havia esquecido e há dias queria recordar para dizer à minha amiga Cláudia, minha irmãzinha.
Naquela tarde de dezembro fomos surpreendidos por uma chuva. Das janelas de vidro da casa eu via sua chegada repentina, o ruído avassalador dos ventos, atropelando-nos. A ira da natureza magoada, ferida, chorava sobre as nossas cabeças.
Gotas d’água caiam do céu, translúcidas. Pareciam chicotes de cristal de um domador invisível, enlouquecido. Barulho crescente apoderou-se da cidade, como os passos de um gigante. Ou o mundo acaba, ou começa assim, pensei. Era, aquilo, como a gênese ou o apocalipse de nossos alucinados sonhos.
Eu olhava de dentro da casa a dança oblíqua das águas sobre a grama verdíssima do pátio. Uma escola de samba pluvial. Bicas escoavam lágrimas dos telhados, como se o inesperado tocasse trombeta e quisesse anunciar alguma dor secreta, infinitamente grande.
As horas contraiam-se de pavor, a solidão fez-se onça acuada quando o belo aconteceu: línguas de fogo cortaram os espaços, ribombaram os trovões maiores; e, simultaneamente, os granizos, pedras enormes, desceram quebrando as simetrias que fundavam a existência, a maciez da vida e das coisas de lá fora, a própria aspereza do mais humano medo.
Precipitadas sobre o pátio, não paravam nunca as brancas bailarinas. Pululavam, frenéticas, bem diante dos meus olhos. Atônito, eu esperava o fim do mundo já tantas vezes adiado. A beleza terrível nos visitara e eu cedi...
Era dezembro. Abri as portas e as janelas, para que entrasse a glória daquele dia. Saí indiferente aos raios que ameaçavam. Poderia morrer de beleza, naquele instante, pouco importaria. A surdez que me vinha dos trovões, e de tudo que rugia, era o meu melhor silêncio interior. Eu era, então, um filme mudo e antigo, sem quadrinhos de legenda.
Fiquei imóvel, até que se fizesse, em pianíssimo, calmaria fora. Sem medo ou sentimento algum menor. Arrebatado é o que se diz, ao menos por segundos, de quem vive epifanias.
Era isso que eu ia dizer à minha amiga Cláudia, na manhã seguinte, quando o seu mundo desabou, silenciosamente, dentro da noite de dezembro, e ela escreveu dizendo que sua mãe partira para sempre.
Aqui também imperava o caos... Nenhum vestígio sobrara da beleza que eu vira, terrível, um dia antes, a vestir a capital mineira. Com os restos da chuva, apenas escombros e fria nudez. Frenético barulho de sirenes, tetos quebrados, soluços, postes e árvores caídos...
Coisa tão grande e bela, a que nos visitou, haveria de cobrar seu preço, sim, em mundo tão pequeno como o nosso. Ainda que alguém jamais possa pagar por isso ou apagar o belo irreversível.
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 6 de fevereiro de 2012.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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Para Cláudia Ahimsa
Naquela tarde de dezembro fomos surpreendidos por uma chuva. Das janelas de vidro da casa eu via sua chegada repentina, o ruído avassalador dos ventos, atropelando-nos. A ira da natureza magoada, ferida, chorava sobre as nossas cabeças.
Gotas d’água caiam do céu, translúcidas. Pareciam chicotes de cristal de um domador invisível, enlouquecido. Barulho crescente apoderou-se da cidade, como os passos de um gigante. Ou o mundo acaba, ou começa assim, pensei. Era, aquilo, como a gênese ou o apocalipse de nossos alucinados sonhos.
Eu olhava de dentro da casa a dança oblíqua das águas sobre a grama verdíssima do pátio. Uma escola de samba pluvial. Bicas escoavam lágrimas dos telhados, como se o inesperado tocasse trombeta e quisesse anunciar alguma dor secreta, infinitamente grande.
As horas contraiam-se de pavor, a solidão fez-se onça acuada quando o belo aconteceu: línguas de fogo cortaram os espaços, ribombaram os trovões maiores; e, simultaneamente, os granizos, pedras enormes, desceram quebrando as simetrias que fundavam a existência, a maciez da vida e das coisas de lá fora, a própria aspereza do mais humano medo.
Precipitadas sobre o pátio, não paravam nunca as brancas bailarinas. Pululavam, frenéticas, bem diante dos meus olhos. Atônito, eu esperava o fim do mundo já tantas vezes adiado. A beleza terrível nos visitara e eu cedi...
Era dezembro. Abri as portas e as janelas, para que entrasse a glória daquele dia. Saí indiferente aos raios que ameaçavam. Poderia morrer de beleza, naquele instante, pouco importaria. A surdez que me vinha dos trovões, e de tudo que rugia, era o meu melhor silêncio interior. Eu era, então, um filme mudo e antigo, sem quadrinhos de legenda.
Fiquei imóvel, até que se fizesse, em pianíssimo, calmaria fora. Sem medo ou sentimento algum menor. Arrebatado é o que se diz, ao menos por segundos, de quem vive epifanias.
Era isso que eu ia dizer à minha amiga Cláudia, na manhã seguinte, quando o seu mundo desabou, silenciosamente, dentro da noite de dezembro, e ela escreveu dizendo que sua mãe partira para sempre.
Aqui também imperava o caos... Nenhum vestígio sobrara da beleza que eu vira, terrível, um dia antes, a vestir a capital mineira. Com os restos da chuva, apenas escombros e fria nudez. Frenético barulho de sirenes, tetos quebrados, soluços, postes e árvores caídos...
Coisa tão grande e bela, a que nos visitou, haveria de cobrar seu preço, sim, em mundo tão pequeno como o nosso. Ainda que alguém jamais possa pagar por isso ou apagar o belo irreversível.
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 6 de fevereiro de 2012.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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Para Cláudia Ahimsa