Do outro lado da vitrina vejo pessoas que se movem, falam mudas para mim. Ver seus gestos me fascina, especialmente porque não as ouço. Passa o metrô, eu o intuo por sua vibração escomunal. Há luzes e eu gosto delas. Uma fração de segundos me separa da chuva que cai. Gotas bailarinas me ludibriam e quando percebo sou o rio que corre veloz para o mar. A tarde ameaça cair infinitesimal sobre as cabeças pensantes do mundo. Eu não penso nada, por isso a tarde dura e eu posso sorver matizes de crepúsculo sem fim. As pessoas passam, sorriem, fazem mesuras para um rei imaginário. Transmudo-me em polichinelo. É absoluto o silêncio. A poesia deste instante alcança toda a minha vida.
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 05 de dezembro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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Para Luciano Luiz e José Gregório, meus confrades de Ordem, que de vez em quando desligam seus aparelhinhos auditivos.
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