segunda-feira, 3 de outubro de 2011
CAUSO ACONTECIDO
Eu conto e os irmãos pensam que é mais uma daquelas estórias do frei Sebastião, com seu bom humor, sua barba enorme e andar envergado de santo que carrega o peso do mundo nas costas. É caso acontecido, deveras! Nós, lá no eremitério... E acharam de achar – o pessoal da universidade – uma lagarta rara, pré-histórica, que só tem lá, e que nem havia sido ainda catalogada nos catálogos da sua ciência própria. Pois cismamos de subir à mata de noitinha, que é a hora em que a criatura aparece, pra vermos a coisa. Subimos armados de paus e facões – porque mata é mata e não tem lei pra bicho – além de lanternas e muita coragem. Ô aventura besta! Vasculhamos tudo, folha por folha, e não achamos nada! Fomos que fomos e ficou por isso, que já era tarde e precisávamos descer. Desiludidos – confesso – descemos, rindo uns das caras dos outros, que gente atoleimada que se presta a um papel desses bem merece pagar caro pelo mico. A mata, aliás, é cheia de macacos! Durou o tempo de chegar e cada um entrar pras suas celas (que é o nome que se dá aos nossos quartos), quando um dos irmãos saiu-se rindo e chamando os outros. A lagarta, a raríssima, pequenina e horrenda, mais do que agarrada estava à barra da calça do frade, discreta como só bicho do mato sabe ser quando não quer ser notado! Êta, coisinha tão feia! Tão feia que até se abonitava andando e se esticando toda, todinha!... Depois disso eu também ri. E se alguém me contasse eu não acreditaria. A minha paga foi voltar à mata, no outro dia, pra devolvê-la incólume ao seu habitat. É por essas e outras que eu às vezes penso que a vida é mais inverossímil do que a arte.
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 3 de outubro de 2011.
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Ao fr. Márcio, que nem estava lá.
Hilário esse causo ou fato acontecido? Fiquei imaginando esses frei"s" nessa odisséia! Pras bandas de cá no meu sertão, minino corre e atira de baladeira em lagartixa, da família de lagarto (não é de lagarta rara), ou mió, num será tudo bicho do mato? Deus os abençoe!
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