segunda-feira, 8 de agosto de 2011

CEM POR CENTO, SEM SER POR CENTO

Cem por cento poeta, sem ser por cento poeta – visto que a vida não se conta ou se mensura em tais medidas. O que eu sei é que ele tem um jeito estranho, estranho e fascinante, de ver o mundo. Não é um sujeito normal, no mais normal dos sentidos.
Nos laranjais, laranjas amarelas. Mas ele insiste em ver incêndio e cem mil sóis. Só cem por cento louco! Bonito é vê-lo vendo o pessegueiro em flor!...
Abelhas baixaram – enxame em fúria! – sobre um galho de árvore. Eu poderia ter dito “melíferas criaturas” ou “um exército mandado pelo diabo”. Mas, não. Disse apenas e desgraciosamente: abelhas e ferrões.
A luz do sol, gelado nesta terra, cai das nuvens deslizante e feia. Não fosse o poeta, uma tragédia acontecia. Acho que um santo endoideceu. A tarde desceu crua, prematura.
No lago, carpas me insultam. Pedem para ser pescadas. Mas se lhes lanço o anzol, recusam a isca mal postada, abanam o rabo e descem para o fundo da água escura.
Estou prenhe, até o pescoço, de suspeitosa inspiração. O mundo é para além do lago, largo, lago.
Só Deus compreende o estranho medo que há nos homens.
Desponta a luz. Um cão a me chamar diz que já está na hora de voltar pra casa.

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 08 de agosto de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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Para Iara

2 comentários:

  1. Faleceu nesta semana em Natal o poeta José Saldanha! Mesmo não sendo cerrocoraense deixou muitos familiares e amigos por aqui.

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  2. Com imenso pesar recebo esta notícia. Pelos desencontros da vida só muito recentemente eu vim a tomar conhecimento de sua importante obra. Eu realmente sinto muito!

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