De repente o Japão virou mar e o mar qualquer coisa indesejável. A natureza, a pura e simples natureza, indiferente ao homem deu curso aos seus ensejos, aconteceu-se, com fragor de placas tectônicas e soberba força, a que chamamos, temerariamente, tsunami. A Terra planeta tremeu em seu eixo, desmesurada, dama quase ofendida. E viu-se a discrição de um povo ferida, mais o lagar de lágrimas neste vale, vale de mar, mar não de águas, sim de dor. Veio o caos, a devastação, o não entender nada. Veio a não cidade, o não porto, o não tudo. Então o grito dos que já não gritam, esse insuportável silêncio, a divina comédia natural.
Quer-se a vida de novo, como antes. Sem tremor. Sem sobressalto. Quer-se a cidade que havia. A criança e a borboleta. O que tem asa a voar... Quer-se tudo, porque a casa onde se nasce – seja aqui ou no Japão – é feita de para sempre.
Mas o navio, oh meu Deus, o navio sobre o edifício, a casa em cima do mar, o trem que saiu do trilho e foi longe passear!... O não ter pra onde ir nem se saber encontrar!
De repente, ai, de repente... O que se sabe e não diz: o mundo não para nunca e a vida segue (in)clemente.
A Terra é uma bailarina. Baila, baila a dançarina! Dança sua dança antiga, percorre infinito palco. A Terra, sempre a girar, em sua órbita divina, quase esquecida de si, rodopiante pião, nos chãos das esferas cósmicas. Festiva e brejeira, a Terra. Maruja, a se ataviar. Vestida de lindas águas, anáguas de se adamar, com seu vestido rodado, nas praias a se sobrar...
Sofre-se aqui... de repente. E ainda se sonha e ri! Esperança há e haverá.
Japão é um outro nome que se dá ao coração.
Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 21 de março de 2011.
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E-mail: seridoano@gmail.com
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Para Selma Hidori e Keiko Yugue.
Nossa quase não consigui ler de tanta emoção, pois o muito que se fala do Japão não são tão agradáveis ao meu coração mas esse enchame de letras que você utilizou nesta crônica me fez resgatar que eu vivi muitos dias de alegria por lá que jamais será esquecido por mim, em meu nome e em nome da minha irmã agradecemos a essa linda homenagem aos que gritam em silêncio com dores de parto, kokoro kara totemo arigato gosaimasu...
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