segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A HORA

Sábado, último dia do horário de verão, essa coisa ineficaz e chatíssima para quem tem a obrigação de acordar antes do sol todos os dias. Ainda cedo, para não me esquecer, atrasei a hora dos relógios. Não queria desperdiçar o tempo “alongado”. Que graça!
Permita-me uma digressão... Alguém aí gosta de horário de verão? Quem dorme e acorda à hora que quer pode até dizer que sim, mas quem é pobre e trabalha... ai, Jesus! E nós, frades, que madrugamos pra rezar...
Contente com a hora que eu ia ganhar de sono, a mesma que eu emprestara em desvantagem ano passado quando mudou-se o fuso horário, lá vou eu me deitar. Estava morto de cansado, com muito sono. Ora, quando entrei na cela (esse é o nome antigo que se dá ao quarto do frade ou monge) deparo-me com uma surpresa pra lá de insólita: a visita de um ratão!... Veio de fora, através das árvores. Entrou pela janela, eu suponho. O que sei é que já tinha feito uma bagunça enorme, tentando sair daquela “cela” que pra ele significava realmente o que nunca foi pra mim, “prisão”. Pobrezinho, estava apavorado, seus olhos eram lindos e brilhavam como rubis. Mas não poderia ficar! Que fazer? Eu me vali de uma vassoura pra enxotá-lo, por infelicidade uma daquelas de piaçava que soltam os fios quando velhas.
Iniciamos uma luta sem precedência na história de nossas vidas, da minha e da dele, que talvez fosse ela, já não se sabe. Depois de alguns minutos a cela estava completamente suja e as coisas todas fora de lugar. Um confrade veio socorrer-me, pois não é comum àquelas horas tal quebra de silêncio num Carmelo. Dois homenzarrões contra um ratinho de nada... E nada! A criatura se mostrava mais esperta e rápida do que nós! Ficamos algum tempo em peleja inconclusa, feridos no orgulho de gigantes que se mostram ineptos perante o ínfimo!...
Quando foi capturado, sempre pequeno em relação a nós, mas bem ratão mesmo, eu estava ofegante e pra lá de exaurido. Uma bagunça homérica! Parecia que havíamos travado combate contra o próprio demônio!
Gastei mais um tempão limpando tudo e arrumando as coisas. Perdi a hora bônus, essa ilusória vantagem (talvez a única real!) do pífio horário de verão. Fui dormir mais tarde e mais cansado! Um caco, por causa do bichinho. Depois, a mim que sou carmelita e não franciscano, deu-me de entoar em dialeto úmbrio o Cântico das Criaturas do seráfico poverello de Assis.

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 21 de fevereiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

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Para Francinaldo Lustosa Magalhães

5 comentários:

  1. Não sei pq todo esse "ESPETACULO" todo por um ratinho, pra quem na infância já criou um animal semelhante ao mesmo!!! ou já esqueceu desse passado distante??? Kkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  2. Espere um pouco, minha infância não é um passado tão distante assim!!! kkkkkkk
    Então você se lembra disso? kkkkkk

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  3. E vc acha que tenho memória fraca é????
    Claro que lembro!!!! Kkkkkkkkk

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  4. Ah! lembro até que você deixava o coitadinho, dentro de uma caixa em cima de seu guarda-roupa!!!

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