segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O CINISMO DE SÃO PEDRO

“São Pedro é cínico!” A voz atravessou o refeitório como um raio, atropelou os pratos de comida, postou-se sobre a mesa como uma carambola. O que isso tem a ver com a realidade, eu não sei. Mas carambola pareceu-me uma boa palavra, melhor até que a fruta. Era elegante o homem que falou com decidida voz, ele bebia vinhos e estava sóbrio. “São Pedro é cínico!”, repetiu com coragem e ainda mais lúcido, rindo-se da chuva que em cinco minutos destruía o trabalho de uma tarde inteira. A voz pousava agora sobre a taça, como ave, embora aves não pousem em taças. Lá fora os raios se multiplicavam, mas eram bem menos enfáticos que o daquele brado. Quebrou-se a taça. “São Pedro é cínico! Escreva isso em sua próxima crônica!”, voou a fala. A um homem daquela estatura nunca se diz não. Escrevo, sim.
E logo se configurou o cinismo de São Pedro, não mais o dos santos evangelhos, nem mesmo aquele do poema de Bandeira, que deixa Irene preta, Irene boa passar; mas um velho barbudo e ranzinza, nascido de crenças medievais, legatário do panteão dos deuses pagãos, alvo de nossas infinitas carências cósmicas e mortais iras, um velho que sempre faz chover nas horas impróprias e tem chaves nas mãos que nunca abrem porta alguma.
“São Pedro é cínico!” A chuva cresceu. O panorama para a festa da noite desapareceu nas águas. Afogou-se. Mas a vida, mais que o filósofo, veio nos lembrar que a necessidade é mãe da invenção e nunca se deve renunciar a uma boa festa. Improvisamos tudo. A festa aconteceu. Só as cadeiras de fora ficaram lá fora, não foram ocupadas por ninguém, apenas pelas gotas d’água; mas isso já não era sublime para mim, como seria a outrem o orvalho sobre as rosas ou uma lágrima de felicidade caída na face... Por quê? Ora, eu tive de guardar todas as cadeiras, pesadas, mais de cinquenta. E repetia pra mim mesmo, ao fim da noite: “São Pedro é cínico, cínico, muito cínico!”
O homem tinha razão.

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 28 de fevereiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

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Para Frei Rubens Sevilha
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domingo, 27 de fevereiro de 2011

ADEUS A MOACYR... (1937 - 2011)

Moacyr Scliar. Foto: Edu Simões. Acervo IMS – maio/1998

Com imenso pesar recebi a notícia do falecimento de Moacyr Scliar, ocorrido neste domingo 27 de fevereiro de 2011.
Perdemos hoje um homem de grandíssimo coração!
Diversas vezes vencedor do Prêmio Jabuti (1988, 1993, 2000 e 2009), escreveu mais de 70 livros de contos, crônicas, ensaios e romances. Recebeu o prêmio Casa de las Américas, em 1989, e o prêmio José Lins do Rêgo, concedido em 1998 pela ABL. Com obras publicadas em mais de 20 países e imensa repercussão junto ao mais variado público, o escritor foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2003. Sua obra “O Centauro no Jardim” (1980) foi incluída na lista dos 100 melhores livros de temática judaica, pelo National Yiddish Book Center dos Estados Unidos.

Ano passado fiz uma pequena apreciação de sua vida e obra e tive a honra de entrevistá-lo. Veja as matérias pelos links:

http://antoniofabiano.blogspot.com/2010/11/moacyr-scliar-nosso-humanissimo-imortal.html

http://antoniofabiano.blogspot.com/2010/11/moacyr-scliar-entrevistado-por-antonio.html

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A HORA

Sábado, último dia do horário de verão, essa coisa ineficaz e chatíssima para quem tem a obrigação de acordar antes do sol todos os dias. Ainda cedo, para não me esquecer, atrasei a hora dos relógios. Não queria desperdiçar o tempo “alongado”. Que graça!
Permita-me uma digressão... Alguém aí gosta de horário de verão? Quem dorme e acorda à hora que quer pode até dizer que sim, mas quem é pobre e trabalha... ai, Jesus! E nós, frades, que madrugamos pra rezar...
Contente com a hora que eu ia ganhar de sono, a mesma que eu emprestara em desvantagem ano passado quando mudou-se o fuso horário, lá vou eu me deitar. Estava morto de cansado, com muito sono. Ora, quando entrei na cela (esse é o nome antigo que se dá ao quarto do frade ou monge) deparo-me com uma surpresa pra lá de insólita: a visita de um ratão!... Veio de fora, através das árvores. Entrou pela janela, eu suponho. O que sei é que já tinha feito uma bagunça enorme, tentando sair daquela “cela” que pra ele significava realmente o que nunca foi pra mim, “prisão”. Pobrezinho, estava apavorado, seus olhos eram lindos e brilhavam como rubis. Mas não poderia ficar! Que fazer? Eu me vali de uma vassoura pra enxotá-lo, por infelicidade uma daquelas de piaçava que soltam os fios quando velhas.
Iniciamos uma luta sem precedência na história de nossas vidas, da minha e da dele, que talvez fosse ela, já não se sabe. Depois de alguns minutos a cela estava completamente suja e as coisas todas fora de lugar. Um confrade veio socorrer-me, pois não é comum àquelas horas tal quebra de silêncio num Carmelo. Dois homenzarrões contra um ratinho de nada... E nada! A criatura se mostrava mais esperta e rápida do que nós! Ficamos algum tempo em peleja inconclusa, feridos no orgulho de gigantes que se mostram ineptos perante o ínfimo!...
Quando foi capturado, sempre pequeno em relação a nós, mas bem ratão mesmo, eu estava ofegante e pra lá de exaurido. Uma bagunça homérica! Parecia que havíamos travado combate contra o próprio demônio!
Gastei mais um tempão limpando tudo e arrumando as coisas. Perdi a hora bônus, essa ilusória vantagem (talvez a única real!) do pífio horário de verão. Fui dormir mais tarde e mais cansado! Um caco, por causa do bichinho. Depois, a mim que sou carmelita e não franciscano, deu-me de entoar em dialeto úmbrio o Cântico das Criaturas do seráfico poverello de Assis.

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 21 de fevereiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

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Para Francinaldo Lustosa Magalhães

domingo, 20 de fevereiro de 2011

CÂNTICO DAS CRIATURAS (Século XII) de São Francisco de Assis



Escrito de grandíssima importância para a língua italiana...

Texto original em dialeto úmbrio

Altissimu, onnipotente bon Signore,
Tue so' le laude, la gloria e l'honore et onne benedictione.

Ad Te solo, Altissimo, se konfano,
et nullu homo ène dignu te mentovare.

Laudato sie, mi' Signore cum tucte le Tue creature,
spetialmente messor lo frate Sole,
lo qual è iorno, et allumeni noi per lui.
Et ellu è bellu e radiante cum grande splendore:
de Te, Altissimo, porta significatione.

Laudato si', mi Signore, per sora Luna e le stelle:
in celu l'ài formate clarite et pretiose et belle.

Laudato si', mi' Signore, per frate Vento
et per aere et nubilo et sereno et onne tempo,
per lo quale, a le Tue creature dài sustentamento.

Laudato si', mi' Signore, per sor Aqua,
la quale è multo utile et humile et pretiosa et casta.

Laudato si', mi Signore, per frate Focu,
per lo quale ennallumini la nocte:
ed ello è bello et iocundo et robustoso et forte.

Laudato si', mi' Signore, per sora nostra matre Terra,
la quale ne sustenta et governa,
et produce diversi fructi con coloriti flori et herba.

Laudato si', mi Signore, per quelli che perdonano per lo Tuo amore
et sostengono infirmitate et tribulatione.

Beati quelli ke 'l sosterranno in pace,
ka da Te, Altissimo, sirano incoronati.

Laudato si' mi Signore, per sora nostra Morte corporale,
da la quale nullu homo vivente po' skappare:
guai a quelli ke morrano ne le peccata mortali;
beati quelli ke trovarà ne le Tue sanctissime voluntati,
ka la morte secunda no 'l farrà male.

Laudate et benedicete mi Signore et rengratiate
e serviateli cum grande humilitate...

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Tradução em português

Altíssimo, omnipotente, bom Senhor,
a ti o louvor, a glória, a honra e toda a bênção.

A ti só, Altíssimo, se hão-de prestar
e nenhum homem é digno de te nomear.

Louvado sejas, ó meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente o meu senhor irmão Sol,
o qual faz o dia e por ele nos alumias.
E ele é belo e radiante, com grande esplendor:
de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã Lua e as Estrelas:
no céu as acendeste, claras, e preciosas e belas.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão Vento
e pelo Ar, e Nuvens, e Sereno, e todo o tempo,
por quem dás às tuas criaturas o sustento.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã Água,
que é tão útil e humilde, e preciosa e casta.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão Fogo,
pelo qual alumias a noite:
e ele é belo, e jucundo, e robusto e forte.

Louvado sejas, ó meu Senhor, pela nossa irmã a mãe Terra,
que nos sustenta e governa, e produz variados frutos,
com flores coloridas, e verduras.

Louvado sejas, ó meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor
e suportam enfermidades e tribulações.

Bem-aventurados aqueles que as suportam em paz,
pois por ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado sejas, ó meu Senhor, por nossa irmã a Morte corporal,
à qual nenhum homem vivente pode escapar:
Ai daqueles que morrem em pecado mortal!
Bem-aventurados aqueles que cumpriram a tua santíssima vontade,
porque a segunda morte não lhes fará mal.

Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças
e servi-o com grande humildade...


ALGUMAS REFERÊNCIAS:

Michele Faloci Pulignani (ed.). Il Cantico del Sole di San Francesco di Assisi. Foligno: Tipografia di Pieter Sgariglia, 1888, pp. 10-11.

Il Cantico del Sole (Cantico delle Creature)
di Francesco di Assisi
Assisi Codex

Cântico das Criaturas (tradução portuguesa) – www.capuchinhos.org

Wikipedia – L’enciclopedia libera:
http://it.wikipedia.org/wiki/Cantico_delle_creature

Wikipédia – A enciclopédia livre:
http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2ntico_das_Criaturas

sábado, 19 de fevereiro de 2011

A CIGARRA E A FORMIGA – La Fontaine (Tradução de Bocage)

Tendo a cigarra em cantigas
Folgado todo o verão,
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.

Não lhe restava migalha
Que trincasse, a tagarela
Quis valer-se da formiga
Que morava perto dela.

Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brio,
Algum grão com que manter-se
Té voltar-se o aceso estio.

"Amiga – diz a cigarra –
Prometo à fé d'animal.
Pagar-vos antes de agosto
Os juros e o principal."

A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso junta.
"No verão em que lidavas?"
À pedinte ela pergunta.

Responde a outra: "Eu cantava
Noite e dia, a toda hora."
– Oh! bravo, torna a formiga;
Cantavas? Pois dança agora!

Jean de La Fontaine
(1621-1695), poeta e fabulista francês.
Tradução de Bocage.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

ABUNA BATRIK NA TERRA DOS FARAÓS


Frei Patrício Sciadini, Carmelita Descalço.

Frei Patrício Sciadini, meu confrade, italiano e brasileiro, arauto do Carmelo, consagradíssimo neste país onde é amado e querido por toda a gente... de repente foi-se embora pro Egito!
Era seu sonho evangelizar na África, dizem, talvez não aquela do Norte, “branca”; mas para lá se foi, porque ele, Deus e o Padre Geral da nossa Ordem quiseram. O povo do Brasil não gostou e reclama ainda hoje de saudades. Todos o querem de volta. Um dia ele volta, gente!...
No Cairo temos convento e obra social. Em vista disso nosso irmão partiu, por indeterminado tempo, para viver abscondito cum Christo in Deo na terra dos faraós.
Frei Patrício se tornou “Abuna Batrik”, tal como assina nas notícias que me manda de lá.
Aqui ele publicou dezenas de livros, não sei quantos, nem ele sabe quantos, talvez cem ou mais; e vivia pregando para pessoas de todas as partes. Sabe lidar, meu velho irmão, com grandes públicos e as novas mídias. Avião era seu ultramoderno convento móvel, no ir e vir desta apostolicidade que tanto bem faz ao povo nos claustros do mundo. Mas, acreditem, chegou aqui de navio, num sete de setembro de mil novecentos e não sei quando, achando que toda aquela festa da Independência era pra ele!...*
Frei Patrício, nosso “abuna”, escritor inveterado e conferencista das nações, reside agora num lugar de língua que lhe parece indomável para escrever e falar. Escolheu tornar-se apenas o que é mais importante e ninguém vê: sal da terra e luz do mundo. Sim, pois cristãos dão sabor e brilham alto, até do fundo de seus escondimentos!...
Uma vez chegou de surpresa ao nosso convento. Era hora da refeição e dia de silêncio. Quebraram-se os protocolos, porque nenhuma observância é maior que a alegria de receber um irmão. Ele atravessou o refeitório, cumprimentando-nos um a um com seu sotaque inconfundível. Ao chegar ao lugar do último frade, imediatamente voltou, já se despedindo de todos, no mesmo ritual de apertar nossas mãos, e partiu. Estava indo ao Nordeste do Brasil, falar para jovens.
Veio a calhar de estar no Cairo exatamente no momento histórico em que o povo levantou sua voz contra o homem que ditou o Egito por quase trinta anos. Ele e a comunidade passaram maus bocados no auge da insurreição.
Quando caiu o ditador na última sexta-feira, depois de dezoito dias de intensos protestos acompanhados pelos olhos de todo o mundo, o povo egipciano cantou alegre pelas ruas e abraçou seus soldados. Nosso “abuna” ficou feliz pelo fim do conflito e das violências, e escreveu ao Brasil sobre as esperanças que pairam por lá: “A pomba da paz está voando de novo no céu do Egito. (...) Esperamos agora que a passagem à democracia seja serena e tranquila, que a consolidação da democracia não tarde a vir e que o exército possa garantir o bem e a paz do povo. Este povo que com seu anseio já entrou a fazer parte da minha vida e história, possa caminhar com a sabedoria milenar que o sustenta, rumo a uma nova fase de sua história.”
É o que também queremos, Abuna Batrik!...**

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 14 de fevereiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

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* Frei Patrício chegou ao Brasil em 7 de setembro de 1973. O porto do Rio realmente estava em festa, mas para a Pátria que logo seria sua.
** Este “abuna” tem sido muito duro com o fradezinho que vos escreve!... Semana passada leu minha crônica e disse que eu devia pôr mais sementes do evangelho nos textos, além de frases dos nossos santos carmelitas que são os melhores do mundo! Ao ler o presente artigo censurou-me ainda mais severamente pela falta de pudor ao falar de si. Escreveu-me dizendo que redimensionasse as “besteiras desnecessárias e elogios que para nada servem”. Como nem só de coisas muito sérias vive o homem, não obedeci.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Two loves I have of comfort and despair (Sonnet 144) by William Shakespeare

Two loves I have of comfort and despair,
Which like two spirits do suggest me still;
The better angel is a man right fair,
The worser spirit a woman, colour’d ill.
To win me soon to hell, my female evil
Tempteth my better angel from my side,
And would corrupt my saint to be a devil,
Wooing his purity with her foul pride.
And whether that my angel be turn’d fiend
Suspect I may, but no directly tell;
But being both from me, both to each friend,
I guess one angel in another’s hell:
\\Yet this shall I ne’er know, but live in doubt,
\\Till my bad angel fire my good one out.

William Shakespeare

When in the chronicle of wasted time (Sonnet 106 ) by William Shakespeare

When in the chronicle of wasted time
I see descriptions of the fairest wights,
And beauty making beautiful old rime,
In praise of ladies dead and lovely knights,
Then, in the blazon of sweet beauty’s best,
Of hand, of foot, of lip, of eye, of brow,
I see their antique pen would have express’d
Even such a beauty as you master now.
So all their praises are but prophecies
Of this our time, all you prefiguring;
And, for they look’d but with divining eyes,
They had not skill enough your worth to sing:
\\For we, which now behold these present days,
\\Have eyes to wonder, but lack tongues to praise.

William Shakespeare

Weary with toil, I haste me to my bed (Sonnet 27) by William Shakespeare

Weary with toil, I haste me to my bed,
The dear repose for limbs with travel tired;
But then begins a journey in my head
To work my mind, when body’s work’s expir’d:
For then my thoughts – from far where I abide –
Intend a zealous pilgrimage to thee,
And keep my drooping eyelids open wide,
Looking on darkness which the blind do see:
Save that my soul’s imaginary sight
Presents thy shadow to my sightless view,
Which, like a jewel hung in ghastly night,
Makes black night beauteous and her old face new.
\\Lo! thus, by day my limbs, by night my mind,
\\For thee, and for myself no quiet find.

William Shakespeare

Shall I compare thee to a summer’s day? (Sonnet #18) by William Shakespeare

Shall I compare thee to a summer’s day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer’s lease hath all too short a date:
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm’d:
And every fair from fair sometime declines,
By chance, or nature’s changing course untrimm’d;
But thy eternal summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow’st,
Nor shall death brag thou wander’st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow’st;
\\So long as men can breathe, or eyes can see,
\\So long lives this, and this gives life to thee.

William Shakespeare

When I consider every thing that grows (Sonnet 15) by William Shakespeare

When I consider every thing that grows
Holds in perfection but a little moment,
That this huge stage presenteth nought but shows
Whereon the stars in secret influence comment;
When I perceive that men as plants increase,
Cheered and check’d e’en by the self-same sky,
Vaunt in their youthful sap, at height decrease,
And wear their brave state out of memory;
Then the conceit of this inconstant stay
Sets you most rich in youth before my sight,
Where wasteful Time debateth with Decay,
To change your day of youth to sullied night;
\\And, all in war with Time for love of you,
\\As he takes from you, I engraft you new.

William Shakespeare

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

"Nativas potiguares" (2010) - ASSIS COSTA


Oléo sobre tela. Localizada na Humanitare - Unidade Médica Dr. Flaubert Sena. Reprodução autorizada pelo Autor.

"Violeiros" (2009) - ASSIS COSTA


Óleo sobre tela. Localiza-se na França.
Reprodução autorizada pelo Autor.

"Dom Quixote e Sancho Pança" (2009) - ASSIS COSTA


Óleo sobre tela. Acervo do artista. Reprodução autorizada pelo Autor.

ASSIS COSTA - artista potiguar


Na sequência publico algumas obras do artista plástico potiguar ASSIS COSTA. Foi meu colega de faculdade na UFRN – turma de 1998 – e há quase dez anos não nos víamos. Reencontrei-o nas férias deste janeiro, por acaso, em uma feira internacional de artes. Para ver mais obras suas acesse o site do próprio artista:
www.assiscostaartistapotiguar.blogspot.com

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

FEIÚRA FUNDAMENTAL

"A feiúra é fundamental, ao menos para o entendimento desta história. É feia, esta que vos fala. Muito feia."

Moacyr Scliar
("A mulher que escreveu a Bíblia".
São Paulo: Companhia das Letras, 2007)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A DÉCIMA PRIMEIRA PRAGA

Ditadores são tipos humanos que dão náusea, talvez a condição de existir mais vil. Eles incorporam um dos muitos lados sombrios que há no humano decaído, fingem-se de bonzinhos, mas são miseravelmente egoístas, perversos. Ditadores estão sempre aí, e fazem mal na mesma proporção do poder que têm ou lhes damos. São seres tangidos por aberrantes loucuras, que não poucas vezes se tornam coletivas, obcecados pelo poder de poder sempre mais. Ditadores alimentam-se de mentiras e estão dispostos a qualquer meio para os fins que lhes agradam e dão vantagem.
Um déspota torna-se ainda mais digno do nosso desprezo quando é sínico o bastante para não admitir que sabe que sabemos que ele finge que não sabe que é perdedor desde o início. Alguns talvez acreditem que são assim, onipotentes, mas isso já é parte da própria loucura.
Quando podem, eles se perpetuam no poder, porque pensam que são eternos – é incrível, mas quase todos eles pensam que são eternos – e se não morrem, além de serem os únicos capazes de governar o mundo, eles, obsequiosos, obrigam-se a ficar firmes no posto, contra tudo e contra todos. Os mais lúcidos, ao se darem conta de que também hão de passar, arquitetam sucessões.
Mas o fim dessa gente horrenda, com poucas exceções, é o porão da história. E, logo, uma ou duas páginas de vergonha nos livros. Depois que caem, quando ainda subsistem quais cadáveres adiados, ditadores ficam com medo, muito medo, mais do que o que sentem enquanto estão no poder e podem dar-se ao escopo de seus delírios. O medo deles é mil vezes maior que o das vítimas subjugadas, torturadas etc. É o caso dos tiranos que fizeram as ditaduras na América Latina, em tempo próximo do nosso, se quiserem lembrar, particularmente a do meu país. Ao término do engodo, os covardes algozes e dissipadores de “subversão” fogem como ratos para os esgotos, e ficam à espera da morte benfazeja que os liberte do inferno de suas próprias consciências. Se houver outro inferno, muito provavelmente é para lá que eles vão ou ninguém mais vai.
Quando o povo quer democracia, acontece isso que vemos em tantas partes do mundo e agora também no Egito (o que é apenas uma situação emblemática, muito mais complexa em sua natureza política): um abortivo agarrando-se desesperadamente ao poder, insistindo em governar um povo que não quer ser governado por ele, um povo que nunca o amou e já não o teme. Cedo ou tarde caem os faraós. A décima primeira praga do Egito grassa nas ruas do Cairo e em todo o orbe. É sublevação. Leiamos os sinais dos tempos...
Ditador é um sujeito burro, que não pode ser Josué e Deus, nem poeta, mas que mesmo assim insiste em tentar fazer o sol parar no meio do céu e impedir que as águas corram para o mar. Nos governos, nas repartições públicas, nos bares, igrejas e até mesmo em casa podem existir miniaturas, réplicas patéticas dessa aberração do mal. São déspotas mais ou menos desvelados na sua respectiva dose de poder. O fenômeno às vezes ocorre até em democracias... E, com poder nas mãos, qualquer um pode ser acometido por tal moléstia. Talvez você conheça alguém assim, talvez pensem o mesmo de nós... Espero que não.

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 07 de fevereiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011