Que viver é um espetáculo maravilhoso, já quase ninguém duvida! A vida é bela! A vida. Mas por que essa maravilha às vezes pode tornar-se tão adversa? A pergunta vem de um fato. Não, eu não me refiro ao primeiro paredão do Big Brother Brasil deste ano. Falo de outro “reality show”, o mais terrível que já vimos em tempo “vivo” e aquele que nunca quereríamos ter visto. Esqueceremos?
O que dizer quando acontece algo semelhante a isto que se deu no estado do Rio de Janeiro e já é considerada a maior catástrofe natural de todos os tempos em terras brasileiras? Esta semana fomos levados a crer que para muitos o mundo acabou. E não estamos certos? Centenas de pessoas desapareceram nas águas que nem são as de março!
Enquanto escrevo isso ouço da TV que mais de 640 mortos já foram resgatados. Ainda são muitos os desaparecidos sob o solo, pessoas ilhadas sem comunicação, sem luz, sem água ou qualquer alimento. Por enquanto não se sabe quantas mil famílias ficaram desabrigadas. E há calamidade pública não apenas no Rio, mas também em outras partes do Brasil onde chove sem parar...
O país inteiro vestiu luto, em meio à tragédia, mas enxugando as lágrimas se mobilizou de norte a sul para ajudar as vítimas das enchentes. Tarde demais para procurar culpados, sejam eles Deus, nós mesmos ou displicentes governantes. O que vimos foi, literalmente, do meio da lama deste fim de mundo surgir a flor da solidariedade. Mais que isso, a esperança de que tudo pode ser refeito do zero. Vimos seres ainda humanos emergindo do caos para uma nova ordem.
Como teimar em continuar vivendo, quando desaba sobre nós o teto da vida? Com que cara insistimos em permanecer aqui, quando aquele quase nada que tínhamos sumiu por completo? O que dizer a quem nos interpela a respeito de pais e filhos desaparecidos nas terríveis águas deste janeiro triste, triste, de 2011?
Apesar de tudo, sob escombros pessoas cantaram, acreditaram que viver é possível. E viveram. Bombeiros morreram, sim, estes heróis que sempre estão onde mais precisamos deles, mas só para que outros mais pudessem viver. Mães parturientes nessa urgência deram à luz seus filhinhos. Velhos nasceram de novo e até quem perdeu tudo e todos ocupa-se agora como voluntário em salvar vidas de vizinhos. Há muita bondade neste mundo. E esperança. Os que ainda choram alternam pranto e riso, porque brasileiro é assim, não se deixa vencer pela tristeza. O curso deste outro rio imprevisível que é a vida não para nunca...
Antonio Fabiano
Cerro Corá - RN, 17 de janeiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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PERDA MENOR: A casa onde o maestro Tom Jobim compôs “Águas de março” e outras tantas canções já não existe. O temporal que devastou a Região Serrana do Rio de Janeiro também destruiu essa construção histórica para a música popular brasileira.
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