segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

MANOEL, O DE BARROS...

“Sou um sujeito magro
Nasci magro.”


Até pensei que eram meus esses versos do grande Manoel de Barros!... Mas antes que me crucifiquem, por me “comparar” ao gênio maioral contemporâneo, eu me adianto dizendo que não me comparei e só pensei que os versos fossem meus pela descrição física. Sim, eu poderia dizer isto, disfarçadamente, no meio de qualquer conversa, com absoluta naturalidade: sou um sujeito magro, nasci magro... E não é que é verdade! É quase um autorretrato! Porém, Manoel disse primeiro e disse dizendo como ele só; disse quando eu ainda nem tinha nascido. Dizê-lo como eu disse que diria – se eu dissesse o que ele disse – seria paupérrimo, soaria banal, não virava poesia em minha boca de conversa fiada. No poeta do mato, esse menino selvagem que eu tanto amo, a sentença elucubra os dois primeiros versos de “A voz de meu pai”, esplêndido momento de Poesias (1947).
Manoel de Barros é um caso à parte na literatura de língua portuguesa. Sui generis. Dos poetas mais lidos no Brasil. Originalíssimo! Paradoxalmente não tem, como ele mesmo lamenta, notável fortuna crítica. Inexplicável fenômeno, esse, a quem escreveu mais de vinte bons livros e é apreciado por artistas e intelectuais de todos os cantos. Por que Manoel de Barros não conquistou a atenção da academia? É o que me perguntei ano passado, quando tomei nas mãos o primoroso volume de sua Poesia Completa (publicou-se no início de 2010, por uma editora do grupo Leya). Recentemente o poeta virou filme: “Só dez por cento é mentira”. Sua desbiografia oficial é um longa-metragem/documentário de Pedro Cezar. E o título vem de uma das frases lapidares do próprio Manoel: “Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira”.
Lendo Manoel de Barros nós descobrimos cada coisa... Exemplos: “Sapo de noite arregala o olho pra desmedir a saudade”. Ou, “Formiga de bunda principal em pé de fedegoso anda entortada.” Mais sublimes: “Coisa de Deus! a breve espera do rio para a passagem dos patos.” E, ainda: “Um girassol se apropriou de Deus: foi em Van Gogh”.
Há tanta beleza na escrita deste poeta, que nem sabemos bem por onde começar. Quanto aos versos da epígrafe não serem meus, já me conformo. Sou magro do meu jeito, nasci magro... Mas Manoel é Manoel!
Termino com umas palavras dele, do meio do poema que já citei aos começos:

“À noite, porém (ó cidade tentacular!),
Me rendo.
Resfolegante como um boi, paro.
Vasta campina azul de água me olha, me contempla, me aglutina
E suja-me de iodo a roupa...
– É o mar!
Meu rosto recebe a brisa do mar.

Fecho os olhos.
Descanso.
Os ventos levam-me longe...
Longe...”


Com essas ideias eu voo para ver o mar da minha querida Natal! É mar que cabe dentro de um rio, o Rio Grande do Norte!...

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 03 de janeiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

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Para meu amigo Theo G. Alves

2 comentários:

  1. Que lindo, Frei. Parabéns escolha dos versos. Na verdade creio que deve ter sido difícil selecionar, tamanha a beleza dos escritos do poeta.
    Frei, sua simplicidade e humildade nos encantam. Grande abraço e um 2011 muito abençoado!
    Josi

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  2. Meu querido irmão,
    muitíssimo obrigado pela honra da dedicatória. E como é poeta esse Manoel!
    Bom saber que você está vindo às terras potiguares. Tenho aqui uma carta datada de 2/11 para você e um par de livros. Tentemos que a entrega se realize em mãos.
    Muita saudade, muito agradecido.
    Abraço
    Theo

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