segunda-feira, 29 de novembro de 2010

PERDA EM TRÂNSITO

Esta semana fui surpreendido por uma daquelas notícias que, simultaneamente, nos entristecem e revoltam. Da minha longínqua cidade de origem, a preciosa Cerro Corá, informaram-me de um acidente automobilístico sofrido por um casal amigo nosso e vizinho. A mulher feriu-se gravemente, sob duras penas recupera-se. O marido perdeu a vida. Isso entristece. A causa do acidente? No outro lado da história um inqualificável, alcoolizado, no volante. Essa é a parte que revolta.
Acidentes acontecem todos os dias, em todo o mundo. Alguns são mesmo inevitáveis, e qualquer um de nós está exposto a perigos – seja eu ou você, o papa que é pop ou a linda princesa da Grã-Bretanha. Mas quando se trata de algo assim, que poderia muito facilmente ter sido evitado e só aconteceu por causa da irresponsabilidade de alguém que não respeitou as leis do seu país, os bons costumes da civilidade e aquilo que chamamos de bem do próximo... O que dizer?
Aqui em Minas nos deparamos frequentemente com esse problema. Vocês estão cansados de ver nos noticiários os recordes de acidentes em nossas rodovias. As estatísticas são alarmantes, sobretudo nos feriados e nas grandes festas do ano. O pior é a constatação de que muitos desses males poderiam ter sido evitados e têm quase sempre a mesma causa: imprudência na direção e álcool (não nos motores, mas nos motoristas). Aliada a isso, não bastasse o muito já dito, vê-se com frequência a impunidade dos que matam no trânsito e por sorte não morrem.
Somos obrigados a ouvir muitas vezes a assertiva “se beber não dirija” ou “aprecie com moderação”... E, no entanto, muitos dos que bebem – com ou sem moderação – se julgam aptos para o volante, aptos para a vida em veloz velocidade. Para esses, acidente é coisa que só acontece aos outros, no máximo a meu vizinho, nunca comigo nem com os meus. Quem pensa e procede assim, não apenas corre o risco de perder a vida, mas ainda pode arrastar consigo outras, inocentes, de gente de bem, pais de família, pessoas notadamente sérias na vida e no trânsito.
São muitas as famílias que se desfazem, em situações análogas. Amores que se partem. Filhos que ficam órfãos, como os do meu vizinho. Pais que se desalentam, pela inversão da ordem natural que é perder um filho. Amigos que nem sequer tiveram tempo de dizer “adeus”. E no meio disso tudo a violência (como a de ousar dirigir em estado alterado pelo álcool), o desrespeito ao humano, a impressão de que morrer é banal, porque alguns vivem de modo banal e matam dolosamente, banalmente...
Mas eu e muitos ainda cremos que viver não é banal.

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 29 de novembro de 2010.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

Um comentário:

  1. E como diz aquela propaganda: ALCOOL E DIREÇÃO NÃO COMBINAM.Quantas vidas terão que ser tiradas? arrancadas do seio famíliar para que o "povo" se conscientize? Belíssima crônica.

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