segunda-feira, 9 de agosto de 2010

MANUEL, O BANDEIRA...

Quem de nós não terá lido Bandeira, o Manuel, ao menos uma vez na vida com alumbramento? São deles alguns dos versos mais antológicos da poesia brasileira. Poeta mais velho, soube dialogar com os moços, como aqueles rapazes da Semana de 22, que irritaram o país, dentre outras coisas, com os sapos, de Manuel.
A poesia desse Bandeira habita o imaginário de cada um de nós, até mesmo dos que nunca abriram um livro seu ou sequer sabem ler. Por quê? Ora, Manuel foi brasileiro e, mais que isso, Brasil.
Ele, um dia, descobriu que ia morrer. Era muito novo pra isso, mas a tuberculose prometeu matar-lhe. Manuel até que esperou “a indesejada das gentes”, que não veio por um tempão. Demorou. O poeta do Recife fez, então, a poesia “da vida inteira que poderia ter sido e que não foi”. Sua vida, do nada foi ficando “cada vez mais cheia de tudo”. Ele a escreveu.
Considerado em seu tempo o maior poeta do Brasil, tinha de si uma ideia modesta: a consciência de ser um “poeta menor”, fadado a nem sempre conseguir transmudar emoções morais em estéticas, nas suas “pequenas dores e ainda menores alegrias”, como revela no Itinerário de Pasárgada, uma espécie de autobiografia intelectual.
Embora fosse um escritor completo, dizia que só no chão da poesia pisava com segurança. Mas, longe de viver de ilusões, professava que não há poetas perfeitos, há poemas perfeitos. Aos que lhe chamavam de grande, respondia com humor: “grande é Dante”. E, embora tenha sido imortal da Academia Brasileira de Letras, não alimentava desejo algum de imortalidade. Chegou mesmo a confessar que o seu poema A morte absoluta foi sincero, não apenas na hora em que veio à luz (única sinceridade que se espera de uma obra de arte), mas sempre.
Bandeira foi um respeitado tradutor. E, das línguas que bem conhecia, saiu-nos uma vez com esta afirmação: “sempre achei que dos idiomas que conheço o inglês é por excelência a língua da poesia: tudo se pode dizer em inglês, e a ternura mais desmanchada nunca mela”. Coisas do Manuel!... Gostava de ser traduzido (considerava algumas traduções feitas de seus poemas, melhores que os originais). Coisa dele! Porque nós preferimos ele por ele mesmo! Malungo com todos os mafuás!...
Eu também, Manuel, já arrumei a mala duas ou três vezes, e disse pra todo mundo que ia embora pra Pasárgada! Sim, lá sou amigo do rei e as outras coisas... Também eu, poeta, só vi o rio Capiberibe, Capibaribe (pela primeira vez, depois de mil vezes), ao ler teus versos. E jamais o teria visto de fato, se não o tivesses dito em poesia! Também eu persegui a minha estrela da manhã, por quem faria tudo, até morrer, e sem a qual nunca mais soube viver...

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 09 de agosto de 2010.
Blog: http://www.antoniofabiano.blogspot.com/
E-mail: seridoano@gmail.com

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