VI
ENCANTAMENTO
(COLAR)
“Para! Para!”, quase implorou. Mas ela ia cada vez mais rápida, como se não tivesse pés, como se... se... se deslizasse.
Ele corria ao seu encalço, para alcançar-lhe... Mas ela, sibilante, não queria se mostrar.
Enigma sem fim pareceu-lhe, no primeiro instante. E no segundo... E no terceiro... Até o fim! Ele, contudo, não queria decifrar nada, que é mal dos enigmas a indecifrabilidade e é muito bom que seja assim! Queria apenas furtar-lhe as cores, algumas cores só, talvez as mais primárias ou... Ou? Queria apenas isso, a fim de que... a fim de que...
Seu ir cada vez mais rápida desconcertava-lhe! Dali a pouco era uma confusão de tons sem nexo, cores, mais a teimosia de uma só sinfonia incólume, símbolo de clara resistência nesse afinado desconcerto, música sempre viva no bailado dos corpos que ondulam. Ai, ai, verdadeiro desconserto!... Delicioso desconcerto!...
Já não caberia dizer “stop”, ou qualquer coisa soçobrante em vernácula esfera do poema walysalomônico. Aquilo era coisa buscada, rapto de mestre!, coisa buscada exatamente daquelas páginas de um mais antigo pensador, ditada (essa coisa) por um tal índio brasileiro, que a soubera cantada por seus longínquos ancestrais (pois estes, sim, tinham alma e amavam-se).
Ofegante olhou, agora de frente e sob um entrecruzado olhar, o olhar da ofídia. “Não quero teu enigma”, jurou, “bastam-me as cores!”...
E a tocou.
“Para! Para!”, implorava esta outra vez. “Ondulas tu demais e assim não dá”...
Era um colar pra dar – o que se fez diálogo – à sua amada. E a exaltada beleza, já por demais reinante, agora imperaria sobre outras cobras não corais.
Antonio Fabiano
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