sábado, 31 de julho de 2010
MONUMENTO MINEIRO
Fotografia de Everaldo Abril Pontes
Monumento da Praça da Estação de Belo Horizonte em homenagem a Minas Gerais.
BELO HORIZONTE
quando eu cheguei aqui
não vi belo horizonte
afrontavam-me os muros altos da cidade
suas paredes sujas
de uma arte
que eu não sabia entender
cheia de rebeldia
aparente subversão
desproposital
quando eu cheguei aqui
não vi belo horizonte
isso porque talvez eu fosse
muito
o que ainda sou
mei-
o
bicho do mato
perdido na capital
a cidade se escondia de mim
(mineiramente desconfiada...)
ou eu me escondia da cidade
como coisa bruta, arisco
ela ou eu
ela e eu
era assim
depois ficou nua
– lentamente –
como mulher pra homem
mostrou-se inteira a mim
e eu a amei
no início
foi como casamento por conveniência
sem sabor
o amor veio depois.
Antonio Fabiano
Direitos reservados
não vi belo horizonte
afrontavam-me os muros altos da cidade
suas paredes sujas
de uma arte
que eu não sabia entender
cheia de rebeldia
aparente subversão
desproposital
quando eu cheguei aqui
não vi belo horizonte
isso porque talvez eu fosse
muito
o que ainda sou
mei-
o
bicho do mato
perdido na capital
a cidade se escondia de mim
(mineiramente desconfiada...)
ou eu me escondia da cidade
como coisa bruta, arisco
ela ou eu
ela e eu
era assim
depois ficou nua
– lentamente –
como mulher pra homem
mostrou-se inteira a mim
e eu a amei
no início
foi como casamento por conveniência
sem sabor
o amor veio depois.
Antonio Fabiano
Direitos reservados
PENSANDO...
BEM E MAL
O bem e o mal, vistos como realidades antagônicas, podem ser comparados, sob equivalência e de modo equitativo, enquanto valores simbólicos. Somente como valores simbólicos são iguais. Neste sentido, o bem se apresenta como valor positivo e o mal como valor negativo. Ambos são valores, mas de um prisma diverso, e por isto não têm proporções iguais em suas puras realidades. Desta forma, não são páreos. E a partir do que se diz não são “iguais”, mas diferentes em mais e menos.
A prevalência de um sobre o outro (isto é, do bem sobre o mal ou vice-versa) possui dinâmica alternância no quadro das realidades presentes, de maneira tal que não se pode verificar no mundo empírico o triunfo definitivo (prevalência total e irreversível) de um ou outro senão como coisa crível pela razão expectante. E, uma vez que seja coisa crível pela razão, é também no viés da lógica algo exato como a conclusão de um cálculo matemático ainda não resolvido: podemos ignorar o termo, mas há um termo e é exatamente “aquele”.
Intuímos, então, a superioridade do bem – como valor universalmente desejável. Pois mesmo o mal se baseia em princípios discutíveis de supostos bens, ambicionados, os quais se revelarão pseudobens ou bens desfigurados (descaracterizados) pela própria realidade destruidora procedente do mal. Para que o bem seja maior (superior), em relação ao mal, ele precisa derivar de um bem absoluto, eternamente ímpar, para o qual nenhum outro comparável se postaria. Para este sugerido bem absoluto não haveria um mal páreo (equivalente), pois semelhante hipótese negaria o seu ser absoluto, o que em si é absurdo.
O mal tem um começo, desconhecido mas real por inequívoca exigência da razão. Este começo, que parece ser já seu próprio fim, limita todo e qualquer mal. O mal traz em si mesmo um princípio básico de destruição-autodestruição.
Por outro lado, o bem há de ser germe eternal de construção. Esse bem só pode ter seu advento a partir do possível bem absoluto, e este não pode ter começo se é verdade o que intuímos. Por ter princípio em tal princípio (este último princípio é sem começo ou fim), o bem recebe de sua fonte original uma marca indelével de eternidade ou qual outro nome queiramos dar ao que isso significa.
O mal, enquadrado por convenção em diversas escalas de graus e sub-valores (pois considerado à parte é também ele próprio um valor, ainda que contrário), apresenta-se tendente ao fracasso. Este fracasso é sua meta natural. É falível e tende ao fracasso uma vez que parte de um princípio embrionariamente equivocado, pois as coisas não parecem existir para o mal em si; e o que é considerado mal busca antes de tudo uma realização do bom, ao menos para si – obviamente no âmbito do referido equívoco.
Por outro lado, não poderíamos conceber a ideia de um bem (exceto na esfera do absurdo ou maravilhoso) que se alimentasse do mal para redundar em mais puro bem. Se o bem do qual falamos deriva de um absoluto, trará em si já poderosa inclinação para o ser-se bem sucedido e bom total. Esta ânsia caracterizará todas as coisas ou seres afetados por tal e qual valor. É seu termo último, moralmente desejável e mais que lícito.
Antonio Fabiano
Do caderno VERDES
Direitos reservados
O bem e o mal, vistos como realidades antagônicas, podem ser comparados, sob equivalência e de modo equitativo, enquanto valores simbólicos. Somente como valores simbólicos são iguais. Neste sentido, o bem se apresenta como valor positivo e o mal como valor negativo. Ambos são valores, mas de um prisma diverso, e por isto não têm proporções iguais em suas puras realidades. Desta forma, não são páreos. E a partir do que se diz não são “iguais”, mas diferentes em mais e menos.
A prevalência de um sobre o outro (isto é, do bem sobre o mal ou vice-versa) possui dinâmica alternância no quadro das realidades presentes, de maneira tal que não se pode verificar no mundo empírico o triunfo definitivo (prevalência total e irreversível) de um ou outro senão como coisa crível pela razão expectante. E, uma vez que seja coisa crível pela razão, é também no viés da lógica algo exato como a conclusão de um cálculo matemático ainda não resolvido: podemos ignorar o termo, mas há um termo e é exatamente “aquele”.
Intuímos, então, a superioridade do bem – como valor universalmente desejável. Pois mesmo o mal se baseia em princípios discutíveis de supostos bens, ambicionados, os quais se revelarão pseudobens ou bens desfigurados (descaracterizados) pela própria realidade destruidora procedente do mal. Para que o bem seja maior (superior), em relação ao mal, ele precisa derivar de um bem absoluto, eternamente ímpar, para o qual nenhum outro comparável se postaria. Para este sugerido bem absoluto não haveria um mal páreo (equivalente), pois semelhante hipótese negaria o seu ser absoluto, o que em si é absurdo.
O mal tem um começo, desconhecido mas real por inequívoca exigência da razão. Este começo, que parece ser já seu próprio fim, limita todo e qualquer mal. O mal traz em si mesmo um princípio básico de destruição-autodestruição.
Por outro lado, o bem há de ser germe eternal de construção. Esse bem só pode ter seu advento a partir do possível bem absoluto, e este não pode ter começo se é verdade o que intuímos. Por ter princípio em tal princípio (este último princípio é sem começo ou fim), o bem recebe de sua fonte original uma marca indelével de eternidade ou qual outro nome queiramos dar ao que isso significa.
O mal, enquadrado por convenção em diversas escalas de graus e sub-valores (pois considerado à parte é também ele próprio um valor, ainda que contrário), apresenta-se tendente ao fracasso. Este fracasso é sua meta natural. É falível e tende ao fracasso uma vez que parte de um princípio embrionariamente equivocado, pois as coisas não parecem existir para o mal em si; e o que é considerado mal busca antes de tudo uma realização do bom, ao menos para si – obviamente no âmbito do referido equívoco.
Por outro lado, não poderíamos conceber a ideia de um bem (exceto na esfera do absurdo ou maravilhoso) que se alimentasse do mal para redundar em mais puro bem. Se o bem do qual falamos deriva de um absoluto, trará em si já poderosa inclinação para o ser-se bem sucedido e bom total. Esta ânsia caracterizará todas as coisas ou seres afetados por tal e qual valor. É seu termo último, moralmente desejável e mais que lícito.
Antonio Fabiano
Do caderno VERDES
Direitos reservados
quinta-feira, 29 de julho de 2010
ESFINGE
Não fecharei a janela do meu quarto esta noite.
Como uma esfinge
Postar-me-ei resignado
Sob o olhar desta sombra que se assoma
E me espreita.
Ouvirei sem medo
O estranho vento que passa
E zomba de meu rosto perfilado pelo tempo.
Meu desejo esta noite é o não desejo.
A inversão de todos os vetores.
A rebeldia do espírito humano
Vingativo como um deus antigo.
Antonio Fabiano
Descobri por acaso, outro dia, que esse meu poema foi publicado numa antologia de Colatina/ES. Toda a obra em formato digital está disponível no site da Secretaria de Cultura do referido município.
Como uma esfinge
Postar-me-ei resignado
Sob o olhar desta sombra que se assoma
E me espreita.
Ouvirei sem medo
O estranho vento que passa
E zomba de meu rosto perfilado pelo tempo.
Meu desejo esta noite é o não desejo.
A inversão de todos os vetores.
A rebeldia do espírito humano
Vingativo como um deus antigo.
Antonio Fabiano
Descobri por acaso, outro dia, que esse meu poema foi publicado numa antologia de Colatina/ES. Toda a obra em formato digital está disponível no site da Secretaria de Cultura do referido município.
PARA PENSAR...
Octavio Paz, em seu livro EL ARCO Y LA LIRA (em português “O Arco e a Lira” – Ed. Nova Fronteira), nos diz num monumental epílogo, dentre outras coisas, que ao abolir a noção de divindade o racionalismo reduziu cabalmente o ser humano. Assim, segundo o autor, ao libertarmo-nos de Deus fomos condenados a um sistema mais férreo e a imaginação humilhada se vingou. Como? Fez nascer do “cadáver de Deus” um sem número de fetiches! Na Rússia, por exemplo, divinizou-se o chefe, deificou-se o partido, etc. Entre nós, erigiu-se a idolatria do eu, e esse mal nos levou ao fanatismo da propriedade, posse. Conclui o autor, sobriamente, que o legítimo Deus da sociedade ocidental cristã tem por nome o domínio de uns sobre os demais. Isto é aquilo que também chamamos de opressão e outros nomes feios...
“O Arco e a Lira” de Octavio Paz, que não se ocupa propriamente desse tema acidental, é um grande livro! Traz reflexões desse consagradíssimo escritor sobre o fenômeno poético. Para ele, “poesia não é opinião nem interpretação da existência humana. É revelação de nossa condição original”. Leitura obrigatória para quem gosta da coisa! Fica aí essa modesta sugestão...
“O Arco e a Lira” de Octavio Paz, que não se ocupa propriamente desse tema acidental, é um grande livro! Traz reflexões desse consagradíssimo escritor sobre o fenômeno poético. Para ele, “poesia não é opinião nem interpretação da existência humana. É revelação de nossa condição original”. Leitura obrigatória para quem gosta da coisa! Fica aí essa modesta sugestão...
quarta-feira, 28 de julho de 2010
CONVITE
Oi, meus amigos!
Com este blog quero estar mais perto de algumas pessoas que amam as boas letras e toda forma de arte. Regularmente vou atualizá-lo com textos meus, já publicados ou inéditos, de caráter filosófico ou literário, especialmente deste último, com poesia, conto, crônica, ensaio e crítica ou análise, além de fotos/vídeos e opiniões. Espero que gostem! Sejam todos bem-vindos!
Obrigado!
Com este blog quero estar mais perto de algumas pessoas que amam as boas letras e toda forma de arte. Regularmente vou atualizá-lo com textos meus, já publicados ou inéditos, de caráter filosófico ou literário, especialmente deste último, com poesia, conto, crônica, ensaio e crítica ou análise, além de fotos/vídeos e opiniões. Espero que gostem! Sejam todos bem-vindos!
Obrigado!