segunda-feira, 29 de agosto de 2016

BONSAI (6) - SHIMPAKU "ITOIGAWA" e SHIMPAKU "SARGENTII"

Shimpaku "Itoigawa" de Antonio Fabiano

JUNÍPERO ou SHIMPAKU
(Juniperus chinensis)
Há algumas variações desta maravilhosa árvore que é o junípero-chinês ou shimpaku (pronuncie acentuando o "a"), como é mais conhecido entre os bonsaístas de tradição japonesa. Um dos meus de Itoigawa é ainda pré-bonsai... foi sashiki de Osamu Hidaka e tem mais de vinte anos. Estou trabalhando nele e creio que dentro de mais dois ou três anos consiga, finalmente, transformá-lo em bonsai de estilo fukinagashi, varrido pelo vento. Mais adiante pretendo escrever e mostrar fotos exclusivamente dele.
Os juníperos são árvores que tiveram sua origem na China e com muita facilidade se adaptaram aos mais diversos lugares e climas do planeta. São muito tradicionais no mundo do bonsai. Na verdade, quando as pessoas comuns pensam em um bonsai é provavelmente o desenho de uma dessas coníferas que lhes vem à mente.
As diferenças às vezes são sutis entre eles, mas a variação "sargentii" é ligeiramente adensada, possui folhas mais grossas e copas normalmente mais fechadinhas, além de uma coloração mais escura de verde. 

var. Itoigawa

var. Itoigawa

var. Itoigawa

var. Sargentii

var. Sargentii

Estas são fotos de minhas próprias árvores. Leve-se em conta que uma das árvores é velha e a outra bastante jovem, o que acentua a diferença, além do sol batendo fortemente na primeira. Em alguns artigos ingleses vi bonsaístas comparando os principais tipos de juníperos em dezenas e dezenas de fotos. Há também inúmeros vídeos que mostram bonsaístas do Japão e de várias partes do mundo trabalhando em ambos os tipos. Acredito que a maior parte das pessoas prefira o shimpaku "sangentii", eles são mais populares e mais frequentes nas lojas de bonsai, ao menos aqui no Brasil. Algumas lojas possuem exemplares magníficos desta variação! Tenho um amigo bonsaísta que diz que não há melhor ou pior, a escolha é apenas gosto do colecionador ou cultivador!
Eu confesso que sou um verdadeiro fanático dos shimpakus de Itoigawa. A sua fascinante história de descoberta nas montanhas do Japão, no começo do século passado, é contada de geração a geração de bonsaístas. Eles eram superestimados por seus donos, valiam muito como ainda hoje! Como aconteceu com os shimpakus da ilha de Shikoku, os de Itoigawa desapareceram das montanhas em pouco tempo e sabe-se que dezenas de homens perderam a vida buscando-os avidamente. Hoje são verdadeiros tesouros nas mãos de bonsaístas do mundo inteiro. Os shimpakus de Itoigawa foram muito difundidos aqui no Brasil pelo grande mestre japonês de bonsai, Osamu Hidaka. Parece-me que não há muito em português sobre a história dos shimpakus de Itoigawa. Quando eu for escrever sobre o meu outro shimpaku, tentarei contar melhor essa história a partir do que já li sobre eles.

Antonio Fabiano
seridoano@gmail.com


FOTOS

Shimpaku "Itoigawa"

Shimpaku "Itoigawa"

Nebari

*
 Shimpaku "Sargentii"

Shimpaku "Sargentii"



O Shimpaku "Itoigawa" foi sashiki da grande bonsaísta Regina Suzuki, trabalhado inicialmente pelo amigo Luiz Yassuo Nakamura, mestre de bonsai. Passou por alterações significativas em minhas mãos. Ainda há muito para ser feito!
O Shimpakinho "Sargentii" (é uma longa história, eu já o tenho há alguns anos...) ganhou recentemente um vaso novo chinês, cor de mostarda!    

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

BONSAI (5) - IPÊ



BONSAI DE IPÊ
IPÊ-AMARELO
(Tabebuia sp.)

Embora seja uma das mais lindas árvores, o ipê tem sido cultivado como bonsai apenas de maneira recente, e somente aqui no Brasil de onde é nativo. Por isso, as informações são escassas. Talvez daqui a algum tempo tenhamos conhecimentos mais precisos a respeito da arte de bonsai sobre ipês.
Os ipês são um grupo de nove ou dez espécies, com características relativamente semelhantes, que dão flores amarelas, brancas, róseas ou roxas. São decíduos, perdem as folhas em determinada época do ano.
Por sua constituição anatômica, um ipê é mais indicado para bonsai de tamanho grande ou gigante. E, segundo alguns bonsaístas, adequa-se bem aos estilos “vassoura” ou “troncos múltiplos”. Isso não significa, entretanto, que não possa ser trabalhado em outros tamanhos e estilos. O meu, por exemplo, tem tamanho clássico e seu estilo é MOYOGI, de tronco sinuoso, tortuoso.
A espécie é caducifólia, como já foi dito, e a queda das folhas é simultânea ou precede a floração. Bonsais de ipê-amarelo podem levar cerca de três meses entre a queda das folhas, floração e a produção de sementes, o que normalmente ocorre do final do inverno ao início da primavera. Na natureza ele perde as folhas em agosto, no auge da seca, e depois das flores vêm as folhas novas. No entanto, devido às mudanças climáticas pode sofrer variações. Uma vez que floresce no final do inverno, recebe a influência do mesmo. Isso significa que quanto mais seco e frio for o inverno, mais intensa será a sua floração. Não é comum que floresçam todos os anos, quando em vaso. Aliás, é bem difícil! Devido às regas constantes e demais cuidados, nem sempre será possível o aparecimento das flores, uma vez que em bonsai eles não sofrem as agressivas adversidades naturais necessárias à espécie para desencadear a floração. É mais ou menos assim, dito de modo simples: na natureza, no ápice da seca do inverno, ele "pensa" que vai morrer; então, como um último canto de cisne, enche-se de flores para dar frutos e sementes, no intuito de salvar, perpetuar a espécie. Por outro lado, em vaso, cheio de mordomias e paparicado de cuidados, fica preguiçoso. E, de fato, não convém que se negligencie o mínimo cuidado necessário à árvore envasada. Um pequeno descuido, em dias ou horas pode arruinar para sempre seu lindo bonsai. 
As flores lanceoladas e os frutos que lembram vargens podem ser desproporcionais à árvore miniaturizada, fazendo com que o resultado não seja “realista”. Por isso se disse que o ipê é mais indicado para bonsais grandes ou gigantes. Além disso, suas folhas são compostas, os folíolos apresentam-se geralmente em número de cinco. Isso dificulta a poda, e as folhas não se comportam como em outras espécies em que, por exemplo, folhas grandes podem ser removidas em épocas estratégicas para se trabalhar a diminuição das mesmas ou a proporcionalidade. 
Conversei bastante com amigos bonsaístas de outras regiões do país, os quais têm ipês em vaso. Fiz sempre muitas perguntas, para aprender com eles. Há dificuldades comuns, mas todos gostam muito de seus ipês. Se esses dados desafiam o bonsaísta, nada disso, porém, diminui a beleza e o encanto do ipê, sobretudo ao ser bem trabalhado e respeitado em suas potencialidades. 
Talvez seja isso o que mais me fascina nos bonsais de ipê, tal insubordinação de espírito e a irredutível beleza, a um só tempo delicada e bruta! Os bonsais de ipês são um verdadeiro encanto! São muito valiosos. Eu já os vi de ipês-amarelos e ipês-roxos e, contrariando toda expectativa, até mame... (aqueles pequeníssimos que cabem todinho na palma de sua mão). 
O ipê pode ficar a sol pleno, este não queimará suas folhas. Quanto mais insolação, melhor! O sol reduz o tamanho das folhas. Mas isso não significa que devamos expô-lo ao sol escaldante do verão, nas horas de ápice. Sobretudo se está em vaso pequeno, onde logo secará o substrato. O bonsai de ipê precisa do mesmo cuidado básico dispensado a qualquer bonsai nessa estação. Deve sempre ficar em lugar aberto, ventilado e com boa iluminação. De vez em quando devemos mudar sua posição, pois o lado que toma mais sol tem crescimento diferente do que recebe menos luz.
Transplante e poda de raízes podem acontecer no começo da primavera, em setembro, a cada ciclo de dois ou três anos.
Também esta árvore inspirou muitos poetas! Você sabia que ela é oficialmente a árvore nacional do Brasil?
Faço um apelo ao final deste artigo... Adquira mudas de ipê, da cor que você preferir, e plante em sua cidade ou em seu sítio! As gerações futuras agradecerão! Ninguém fica indiferente em face de um grande e velho ipê florido... é uma das maravilhas naturais deste planeta! Alguém ousa negar?

Antonio Fabiano
seridoano@gmail.com

* * *

CURIOSIDADE:
"Ipê é palavra de origem tupi, significa árvore cascuda. No Norte, Leste e Nordeste do Brasil, é mais conhecido como pau-d'arco, pois os índios usavam sua madeira para fazer arco e flecha; no Pantanal, é conhecido como peúva, também do tupi, árvore da casca; e, em regiões de Minas Gerais e Goiás, como ipeúna (do tupi, una = preto). Na Argentina e no Paraguai ele é chamado de lapacho."

FOTOS

Ipê-amarelo


Sem folhas no inverno...

Com folhas novas...


Trabalho de tração...

Copa

Aramagem...

Sem poda... 


Cadê a flor?


Que beleza de vaso!

Lua... vento... pássaro... flor...


Todas as fotos são de meu bonsai em anos e estações diferentes. 
VASOS: branco hexagonal (desconheço autoria); de flor, Jorge Ribas; verde, Izumi, com inscrição japonesa.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

BONSAI (4) - SAKURA


SAKURA ou CEREJEIRA DO JAPÃO
(Prunus sp.)
Esta é uma linda árvore, muitas vezes comparada ao nosso ipê. É a flor nacional do Japão. Aliás, os japoneses fazem festa no tempo de sua floração, que lá acontece na chegada da primavera. É "hanami"... a contemplação das cerejeiras em flor! No Brasil elas florescem em pleno inverno e também há, especialmente no estado de São Paulo, a Festa das Cerejeiras ou Sakura Matsuri, em diversos lugares, organizada pelos japoneses. Perto de onde moro, o local do festival possui mais de quatrocentas árvores dessas. Então, você pode imaginar que beleza! É como estar em um filme de Akira Kurosawa! O melhor de tudo é que elas florescem sempre por ocasião de meu aniversário, e eu não vejo lugar mais perfeito para comemorá-lo todos os anos!


Sakura Matsuri de 2016

Já o meu bosquinho floresce ao final de julho... Todos os anos abro uma garrafa de saquê, para celebrar a chegada das flores em meu bonsai!
Li certa vez uma lenda onde SAKURA decorre do nome da princesa Konohana Sakuya Hime que teria caído do céu perto do Monte Fuji, transformando-se na bela flor!
Os guerreiros japoneses apreciavam muitíssimo a flor de cerejeira, aliás, presente no Bushido, o código do samurai, que a leva como emblema. A floração das cerejeiras dura pouquíssimo tempo, embora seja expressão máxima de beleza na cultura japonesa. Logo é espalhada pelo vento... Essa efemeridade de sua flor despertava a consciência dos samurais para a natureza transitória da existência.
Trazidas pelos japoneses, aqui no Brasil apenas três variedades adaptaram-se com mais largo êxito (embora haja centenas no Japão): a de Okinawa, que possui uma flor mais avermelhada; a Himalaia, com flores miúdas de um róseo clarinho e nuances de verde suave; a Yukiware, proveniente de Shikoku, sul do Japão, cuja florada de cor rosa suave é superabundante. Mas há outras por aqui, além dessas, porque já vi, inclusive brancas...
Meu bonsai, estilo "bosque", árvores em grupo: SAMBON-YOSE (três árvores).
Antonio Fabiano
seridoano@gmail.com

FOTOS

Cerejeiras em flor... começo da floração!

Detalhe das flores...

Detalhe das árvores do bosque...

Hanami...



Outono...

Folhas de outono...



Bosque em dormência...

Vestido de folhas...

Folhas novas na primavera...

No verão...

Cereja!!!

Vaso atual: magnífico Onodera!...



Todas as fotos são de meu bonsai em anos ou estações diferentes. Exceto as que fiz na Sakura Matsuri.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

BONSAI (3) - ÁRVORE SAGRADA



GINKO
(Ginkgo biloba)
Ginko é uma árvore pra lá de especial... Tremendamente longeva e resistente, pode viver até mais de dois mil anos! Na natureza pode chegar a ter mais de trinta metros. Acredita-se que seja a espécie de árvore mais antiga do mundo, dentre as viventes. Dizem que sua origem remonta há cerca de 250 milhões de anos, segundo estudos de fósseis. Ela é considerada um "fóssil vivo" (Charles Darwin) e é a única sobrevivente de sua antiga Ordem (dos Ginkgoales); sua família possuiu cerca de 18 membros. É a árvore da China, mas possui grande significado para os japoneses. Os cientistas europeus achavam que ela havia sido extinta da Terra, mas foi redescoberta por eles no século XVII. Havia sobrevivido especialmente em algumas montanhas, palácios, jardins e mosteiros budistas da China, de onde fora levada pelos monges ao Japão.  
Quando a bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima no final da Segunda Grande Guerra, foi uma dessas velhas árvores a primeira manifestação de vida a rebrotar no meio da devastação. Por isso chamam-na também de "portadora da esperança". Ela estava quase intacta, enquanto o templo budista foi totalmente destruído. Na edificação do novo templo adaptaram-no, para que a árvore fosse preservada e permanecesse ali para sempre. Ela tornou-se símbolo da força e superação dos japoneses, e as pessoas que visitam o local até hoje fazem suas preces de paz diante daquele ginko.
É uma árvore reverenciada na literatura do Oriente desde a antiguidade, na poesia, bem como na pintura, cerâmica e nas artes em geral. Em algumas culturas recebe o nome de Árvore Sagrada. Em português diz-se: ginko, ginko-biloba, nogueira-do-Japão, árvore-avenca... não sei se tem outros nomes! Em inglês ela é chamada árvore-cabelo-de-vênus ou árvore-fóssil; em francês e espanhol, árvore-dos-quarenta-escudos (por causa do alto preço que teve no século XVIII); na Alemanha ela é conhecida como a árvore-de-Goethe, o qual a admirava muito e até fez um poema para sua amada inspirado nas folhas de ginko. Pode-se ler esse poema na internet, em diversas línguas. 
É bastante estudada por suas incríveis capacidades, e também utilizada para questões medicinais as mais diversas. Com ela faz-se não apenas remédios, mas também doces e sobremesas que são servidos, por exemplo, na cerimônia do chá.
É uma árvore caducifólia (perde as folhas no inverno). É algo indescritível, pouco antes de caducar, a cor suave de amarelo que ganha... Como se incontáveis borboletas amarelas pousassem na árvore! 

Espetáculo sazonal...
 

Permanece assim pouquíssimos dias, para então ficar totalmente sem folhas e em dormência por todo o inverno. Somente depois de começar a primavera é que sairão as folhas novas, de um verde muito especial. Uma curiosidade é que há árvores masculinas e femininas (não confundir com bonsai masculino e bonsai feminino). As femininas possuem folhas com vinco mais fundo, são ainda mais parecidas com borboletas e demoram mais a amarelar no outono. De modo geral, as folhas desta árvore parecem leques, com nervuras e uma fenda ao meio, como se fossem dois lóbulos, daí o nome em latim: Gikgo biloba.  
O meu bonsai é um exemplar de Ginko masculino. Antes estava em um vaso Izumi azul, redondo, mas eu o pus este ano em um vaso novo, importado, retangular. Vasos retangulares realçam bem a força e a masculinidade de bonsais que reclamam tal configuração. Porém, estava perfeito no vaso redondo, sem nenhum problema. Para esta árvore, a mudança de vaso foi uma questão de gosto pessoal, pois estimo muito os vasos Izumi, sempre originais e dos melhores que há no Brasil!
Meu bonsai possui o estilo TOSHO – três caules interligados. É praticamente um bebê, em comparação a seus parentes da China e do Japão... tem nove aninhos!

Antonio Fabiano
seridoano@gmail.com

FOTOS

Na primavera... nascendo as folhas novas!

Folhas novas... e nenhuma coragem de podar!

No vaso redondo...

 
Vaso Izumi...

No vaso retangular...

Sem folhas no inverno...



PS: todas as fotos são de meu próprio bonsai e foram feitas por mim.