terça-feira, 26 de junho de 2012

LOUCURA SANTA


O santo enlouqueceu.
Invadiu o céu
Derrubou tronos e estrelas
Cortou as asas de seis anjos
Desacatou a própria Mãe de Deus
E foi-se embora.
Nada de raiar sanguínea e fresca a madrugada!
O dia apareceu de vez e sem rodeios,
Só com humanas emergências!...
(Ou era a noite
Desbotando-se em pavores
Que empalidecera?)
Voaram, meteóricos,
Pedaços de nuvens e constelações
Inteiras,
Cacos de manhãs ainda fechadas,
Prematuras,
Coisas mais do empíreo
Pela terra inteira!
(Terra. Terra.
A que já nem era azul
Vista da Lua
Mas daltonicamente
De outra cor!)
Dispersou-se, esbaforida, a corte toda
Em celestial horror!
Santos velhos, com divinos cansaços,
Prudentes virgens, com suas lamparinas,
Mártires, palmas, auréolas pendidas,
Todos para os seus nichos,
Foram se esconder!
E anjos, que ainda podiam voar,
Partiram em revoada
Pras igrejas de Minas mais barrocas!
Foi uma coisa trágica e linda de se ver!...
A santos e loucos não se imputa culpa.
Restou só Deus, ali,
Fazendo-se de grave...
Meio perplexo,
Contendo o riso (quase a não disfarçá-lo!),
Boquiaberto,
A olhar o santo, o louco,
Admirado...

(FABIANO, Antonio. SAZONADAS, Rio de Janeiro: Taba Cultural, 2012.)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

SÃO DOIS BRAÇOS À PORTA...

Fotografia de Antonio Fabiano

FOLHAS DA ALMA
(Poema de Pedro Kilkerry    1885-1917)


Tu vens... e, oh! fina estranheza!
Respiro uma ilusão morta:
Sorrindo, minha tristeza
Moça lunar  te abre a porta.

Se em tua fronte de sonho
O sonho é uma flor de cera
Chegas... Do que era tristonho
Que luz rosada nascera!

Mas em ti, a ilusão morta
Lembrou a sua estranheza;
Vem! São dois braços à porta
Da minha antiga tristeza.


domingo, 17 de junho de 2012

A NOITE ESTRELADA de VAN GOGH

A Noite Estrelada - 1889
de Vincent van Gogh



"Timbres, Espaço, Movimento ou A Noite Estrelada"
por Henri Dutilleux, França - 1916

Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
Fabio Mechetti, regente
(primeira audição em Belo Horizonte)

"A Noite Estrelada" de van Gogh deixou impressões profundas no compositor francês Henri Dutilleux. Em uma das experiências mais singulares da criação musical contemporânea, ele entregou à orquestra as cores da noite, os sentimentos evocados pelo silêncio, pelo movimento e pela intensa vertigem da relação com o cosmos.

Produção de conteúdo audiovisual: Alicate

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sexta-feira, 8 de junho de 2012

APELO


Esta empreitada não é pra iniciantes
É pra quem já cresceu à flor do tempo
Quem sabe de palavras a delicadeza
O enigma...
Seu eco mais profundo.

Pare o poema
Contenha a mão – vento que o infla –
Se o brilho dessa luz não te comove
Se o belo não te leva ao pranto
De beatíficos gozo e aflição
Em seu mistério penetrável-
Impenetrável.

A espada que se impõe
Tem dúbios gumes
Quando pro ataque ataviamo-nos
Co’ elegâncias.

Isso te aflige?
Atire, pois, contra os muros o meu livro
Rasgue a palavra incômoda
Não sobreviva quem souber morrer!

Mas, ah!... Se
Tu chegaste
Aqui
Inteiro ou aos pedaços
– pouco importa! –
Se assim se deu
Não pares nunca, nunca
Antes do fim!...

(FABIANO, Antonio. “Sazonadas”, Rio de Janeiro: Taba Cultural, 2012). 


sexta-feira, 1 de junho de 2012

CLÁUDIA AHIMSA: lúcida, lírica, insone...


Gullar e Cláudia Ahimsa (Rogério Reis/Instituto Moreira Salles)


Pequena seleção de poemas de
“NOITE SEM DORMIR: poemas timorenses” (2000).
São versos de Cláudia Ahimsa,
amiga tão dileta e alma irmã da minha, “musa do planeta Terra” nos dizeres de seu apaixonado companheiro Ferreira Gullar.
O referido livro – de uma tiragem de cem exemplares numerados e assinados pela autora – possui um PREFÁCIO PARA SER LIDO (mas não é prefácio!): das coisas mais impressionantes que já li em poesia. A obra é dedicada aos guerrilheiros das FALINTIL – vivos e mortos por Timor Leste. Cláudia Ahimsa, amo.


[1º]
Para evitar o amargo da casca
a lagarta em ziguezague vai:
ponto doce... ponto doce... depois volta
longínqua e macia pela via da doçura
que para si mesma traçou...
..........................................................
.....................pela árvore a lagarta vai.
Árvore planeta com tudo que ali habita.
Ampla nos hemisférios de folha e fundo
                        espectral e sobretudo
de uma paz territorial com que se sonha...

Cada flor em suas próprias pétalas
cada copa com raízes próprias
“cada macaco no seu galho”.

Ah, fantástico arquipélago... de tempestades invisíveis.
Estado celular de substâncias coabitantes...
E mesmo em seus limites –


uma gavinha
que noutro galho se entrance.
E mesmo as enxertias... e plantas que parasitam –
ajudam a puxar água

ajudam a respirar – coexistem.

Encosto a testa no desenho da casca
no visco luminoso deixado pela lagarta...
............................................e não posso
desviar do ponto amargo.
Amargo essa mágoa de ilha
ligada ao ladrão pelo mar...
Sem perder o gosto e a luta
Pelo doce dos caminhos –

Direito que até lagarta tem.


                                     Direito à doçura

Cláudia Ahimsa


[3º]
O cão procura e não acha.
O fogo deixou sequelas no faro.
Sabia voltar a casa...
E ao dobrar a esquina rente ao muro...
Que casa? qual nada!
Uma fumaça aqui... outra fumaça ali...
Talvez reconheça nisso
um eco de voz que resiste.
Escutou na sala do seu dono
nas ruas do abandono
tantas vezes as mesmas palavras:
                                       pátria
          ou
morte
Não sei qual é a capacidade vocabular
de um bichinho
assim ferido em seu faro cidadão...
Mas ainda mais triste que um cão sozinho
perambulando pela cidade fantasma –

É esse fumo que fica ali saindo
que fica ali saindo...
dos destroços de tudo que se amou.


Terra queimada

Cláudia Ahimsa


[6º]
Capaz de ver motivo
de fé
numa âncora:
vigio a navisfera
sob aquele céu
obscuro
dos primitivos.


Os tótens?
Excessivamente pintalgados de sangue:
A caixa dos socorros.
Os mapas das fronteiras com o inferno.
Ah, culto faraônico contra a morte...
Ah, meu nome de paz escrito num tanque
como o de Maiakovski.
Vão, missionários! cingidos
de fuzil e capacete 
vão, que é tarde!
Ó vida marinha! monstros teus 
octopus, cachalotes – Pacífico
ajuda a empurrar
pressiona o casco
arrasta a minha prece
não como fita e flor
das leves oferendas
que vão de barquinho
entre as espumas...
Toda a minha fé agora
é uma fragata e mais outra 
o destróier.


                                         Tropas de paz


Cláudia Ahimsa


[7º]
Dorme-não-dorme a cidade marítima.
Serão morcegos?
Atonalidades da noite...
Ou são filhotes das arraias?
Angústias insones...
Ou será fragrância?
Música do sândalo
das tuas montanhas –
o que ouço
desse muro de jasmim...
Confusão!
Sei apenas que a brisa
é noctâmbula também.
E sopra números
nos meus ouvidos...
Do zero às estrelas
que contavas
em lugar delas
344 mil e 580 pontos
para a Independência.
Ouço...
Contas-me
para os sonhos...
Tua história de bravos
teu regresso a ti...
Enfim... a boa notícia.
Mais que política – espiritual.

Basta uma noite sem dormir
para merecer uma alegria diurna.
E o mar não para
de revirar suas conchas
e acordar perigos.

Basta uma noite no mar
para entender
o que é desterro.


Domicílio da noite

Cláudia Ahimsa


[8º]
Talvez... eu pudesse puxar o lençol
até o supercílio
até a aurora...

Encontrar entre silêncios – um
em que se possa adormecer.
Deixar que se desfaça ao longe
a imagem
e Vênus no céu – de fora.
Mas o que há do rosto longínquo
no meu
não se encobre com lençol.

Do leste da ilha
detrás do mato
me olha
por olhos vermelhos.

Lágrimas de sangue
virão comer os pássaros
se durmo de janela aberta.
Se apago a lâmpada
o escuro esconderá
cavas olheiras
junto a buracos no universo.
Amanhã... não choro.


                                        Regresso

Cláudia Ahimsa


[10º]
O rosto desfigurado
não será esquecido.
Demora... não importa.
Faremos as cabeças extirpadas
uma a uma
célula e célula
neurônio a neurônio –
Todos de volta!
As mulheres violadas
serão de novo amadas.
Faremos amor e filhos.
Faremos os braços
as pernas arrancadas
par a par outra vez.
Carne nova para os lábios!
E a face do nosso povo
continuará
a sorrir sobre a Terra.


Avante! pois.

Cláudia Ahimsa

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O direito exclusivo de todos os poemas é reservado a Cláudia Ahimsa.

“Cláudia Ahimsa é uma poetisa que poderia ser timorense porque nela vive a alma e palpita o coração timorenses, o espírito forte de liberdade e independência, mas também de muita sensibilidade e generosidade.
Li os poemas. Mas que coisa mais linda.”

José Ramos - Horta
Nobel da Paz


“Gosto dos seus poemas,
todos feitos de amor, sonho
e fantasia. Dos protestos
que surgem, que a miséria e
a opressão tanto justificam.
Todos a revelar uma
generosidade admirável.”

Oscar Niemeyer

A VIDA AGARRADA - Cláudia Ahimsa


Seleção de poemas do livro
A VIDA AGARRADA
(Rio de Janeiro: Cacto, 2005)
de Cláudia Ahimsa.


Foto da capa: Cláudia Ahimsa
Autorretrato sem cabeça com caranguejos
e pigmento puro IKB (Yves Klein) sobre a pele 


(O direito exclusivo de todos os poemas é reservado a Cláudia Ahimsa)

1. Cláudia Ahimsa


Por ali vai a moça com as saias de cem
anos como a dizer:
– Vamos brincar de Tempo?
Assar para sempre o pão
no lenho posto ao quintal.
Aqui tudo é moral.
Fazer geleia com laranjas
colhidas pela mão.
Temperar ao fogo a água para o banho
e ler Lutero à luz de candeeiro.
Lá vai a moça carregando uma abóbora...
Sua sombra é a topografia inteira.
Dá vontade de dizer o nome de Paracelso por extenso:
– Philipus Aureolos Theophrastus Bombastos von
Hohenheim!
Só diante de Rembrandt estive perto
da luz que vem de sua janela.
O cavalo castanho de seu carro
lambe a paisagem desmesuradamente limpa.
Queira este poema assim
descritivo
pois do que vejo nem é permitido dizer tudo.
O moderno passa ao longe como um fora-da -lei.
Árvores exalam plumas e pios.
Prendo a respiração para parecer-me com isto.
Do sopé da colina a moça acena
Para a máquina vermelha e japonesa que comigo dentro
                                                                           oscila
                                       cem anos para trás
e ao futuro retorna
                                       por uma dobra do campo

como um óvni.


    Amish people
                     Filadélfia, Pensilvânia, inverno 1994

Cláudia Ahimsa

2. Cláudia Ahimsa


A paina roça suavemente
minha nuca e passa
levando a galope de pluma
o mistério da vida.


                                   Sementes aladas

Cláudia Ahimsa

3. Cláudia Ahimsa


Como saber o que cabe
no peito daquele passarinho?
Que peso desde o último pouso
                                                   carrega?
Sementes ossinhos notas musicais.
Como saber se é velhinho?
Se vaga no vazio
Se  comovido vai...


                                               Ciência

Cláudia Ahimsa

4. Cláudia Ahimsa


Cogumelos escuros e aquele bem ali
é bom veneno...
Um gigante fúngico cresce sem fim
onde não vemos...
Na linha do teu pé esquerdo –
cuidado! a lagarta cor-de-telha
é uma asa inacabada.

Pássaro súbito pondo a vista confusa
bicho-pau grilo gafanhoto
salto pálido para dentro do verde
asas lilases tremeluzentes
lírios que não afundam
patos que voam...

Estranha iniciativa...
Levar pelo braço
pelo bosque
dois olhos ausentes
a passeio.
E se o lago continuasse? córrego recôndito adentro?
E se a água se abrisse em flamingos! Eu imaginava...
Como transmigrá-los para o branco? ou mancha escura?
Seres cor-de-rosa com asas vermelhas
que de cabeça invertida se alimentam
de alga rósea e azul...

Muito já me constrangiam as joaninhas
e a luz que há dentro das gotas.
Passava a guardar os olhos com frequência.
Solvências
piscadelas apertadas
do fundo do nervo ótico
detrás da mácula lútea.

As imagens iam aos poucos
desaparecendo da voz
eu começava a calar maravilhas.
O vermelho alarmante
a matéria esvoaçante
vindo em nossa direção
parecia vir para entrar...

O pássaro que perdi
num breve palpebrear.

Toda a zoomorfia assombrava
e sumia na insegurança da poesia
diante de um cego.

Tão logo - suspeitei do rosto ao meu lado –
tenso repleto de espaços...
Então, é para lá que vão? as coisas
que perdemos de vista... as fugidiças...
É para dentro do cego que vão.

(Meus olhos
contentes com a descoberta
descansaram.)

Atravessamos a aleia
como conchas abissais.


                        Reconstituição de um passeio

 Cláudia Ahimsa

5. Cláudia Ahimsa


Edwiges nasceu rica
e na Baviera.
Casada desde os 12
com o príncipe Henrique I
da Silésia.
Edwiges pagava tudo e sempre no dia
e mais o que os pobres deviam.
Tornou-se Santa por isso.
Muito justo. Eu sempre digo:
– Só há Santo interessantíssimo.
E os devotos então?!
A Santa dos endividados que o diga:
Uma senhora de 80 anos
é devota desde os sete.
– E há quem deve desde os sete?
Diz o padre que em tempo de recessão
a devoção aumenta – cresce a fé na Santa
quando sobe a inflação!
Clangor que dá até para medir
a crise financeira de um País.
Insones das economias do mundo
que não saldaram suas dívidas
vão saudar Santa Edwiges.
Mais ricos do que foi a duquesa da Silésia! – credores –
que ao menos a dívida da África seja aliviada – vos peço.
Há os que só vão agradecer
por não dever nada.
Outros dizem nada pedir:
– Só o caminho.


                                   Para saldar
                                                                   16 de outubro

Cláudia Ahimsa

6. Cláudia Ahimsa


Queimaram um índio meu
no chão da cidade.
Meu
porque em meu sangue uma floresta arde
e na floresta batem pés e tambores
pedindo justiça e piedade.

O tribunal pondera:
crime hediondo?
ou brincadeira?

O fogo! meu senhores –
O fogo é testemunha
e só verdade.

Queimaram um índio meu
no chão da cidade.
Diga a eles que
dos filhos deste solo
és mãe gentil
Pátria amada Brasil.


                                   Cinco meninos

Cláudia Ahimsa

7. Cláudia Ahimsa


O pássaro no espinho pousa
e não sangra
e não alarma a silhueta da planta
nem aborta a lenta flor
que ali dentro se forma
[ou já flutua
na água
contida?]

Tiro ao alvo no cacto.

Em verdes caldos e espinhos
a entidade explode
e isso diverte o homem.

O pássaro é melhor que o homem.


                                   Flagrante

Cláudia Ahimsa

8. Cláudia Ahimsa


Patos verdes
vindos do oriente
nadam

zero abaixo.

Diz a cosmogonia
que
possivelmente

restaremos assim:

enregeladas plumas
esfera fria
a vagar pelo universo

até que uma esfera quente
nos consuma –

patos me consolam

dos flagelos humanos –
me extraviam

quando do gelo
saltam

vão às nuvens
e retornam

ao lago congelado
choro calorosamente.


                        Cinética
                                            Para Kläre Steinhorst

Cláudia Ahimsa

9. Cláudia Ahimsa


A boca costurada disse-me uns versos!
Uma princesa
com estrelas de alumínio no cabelo
chorava lágrimas invisíveis. Mas
do alto de seu castelete
caiam plumas. Eu vi.
E desta vez havia a bondade
que primeiro procuro no que encontro.
O soldado em estado de emergência
soprava bolhas de sabão.
O equilibrista era gordo
de uma tal magia bufa e empinava
biscoitos de polvilho.
E outra vez havia o equilíbrio
que Einstein tanto viu entre as esferas.
Imaginas? O acasalamento
dançado apenas por duas sombras...
Sombras apaixonadíssimas. Eu vi.
Do mamelungo a Karagosh
do Bunraku de Osaka
aos títeres da Tailândia
e sempre acreditei em tudo.
Cada beijo.
Cada haste.
Cada mão em luva preta segurando o desabamento súbito.
Em bonecos eu confio.
Nos braços de uma calunga-de-fio
a vacuidade
a fortuidade
que só se confere ao sonho.
Pedaço de pano feliz? Eu creio.
Caroço de manga vestido de noiva. Eu caso.
E se apenas dois traços pintados na falange de um dedo
e se a boquinha disser:
– Olá, bons dias!
Respondo.
Com toda a fiação do meu corpo
sorrio.


                        Poema de amor para marionete

Cláudia Ahimsa

10. Cláudia Ahimsa


O dono do taxímetro
dono circunstancial do meu silêncio
no percurso que àquela rua conduz.

– Sabe que bicho gosta de viver
naquele mato?
– Não, senhor.
– Gambá, e deve estar cheio deles
ali.

De passagem, mal se vê
o emaranhado verde no escuro.
Duas amendoeiras se entrosam
sobre o teto de zinco.
Fito.
De verbo quase em desuso.
“Rubião fitava a enseada.”
E o elevado decliva
na Enseada de Botafogo
constelada de penumbras. Entro
pela palavra gambá – entro no poema
com táxi e tudo.

– Gambá come galinha, não é mesmo? –
Ouvi dizer que quem tem galinheiro
costuma atirar em gambá...
– É um problema matar esse bicho,
disse,
compungido.
– Fede?
– Não, não por isso.
Um dia, pensei – é feio – é mesmo que um
ratinho e matei só por matar. Um horror.
Ele chora. Chora alto. Morre chorando. Eu vi,
os olhos brilhavam. Eu vi as lágrimas. Não, não.
Um horror

(Enseados














afundamos em ruas
cinco esquinas em silêncio até o portão)
A cidade tornaria a entrever no escuro
                                                                                  o olhar

de um dos animais mais antigos da Terra.
Contemporâneo nosso e do tiranossauro!
Em alguma amendoeira carregada de súplica...
No espelho retrovisor daquele táxi.


História natural

Cláudia Ahimsa