sábado, 31 de dezembro de 2011

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A TERNURA NOS VISITA

Como explicar que Deus se fez homem e nasceu pequenininho numa gruta de Belém? Eu entendo os que não podem crer! O que a fé nos propõe é desafiador para a razão, a inteligência precisa ser humilde em face do mistério. E este é bem desconcertante! A fé é um dom muito especial, nem todos estão aptos para tanto, o que também é arcano e, evidentemente, eu não saberei explicar...
Celebrar o Natal, hoje em dia tão amplamente descaracterizado de seu genuíno sentido cristão, é ocasião oportuna para se reviver o mistério da simplicidade suprema que abraçou o gênero humano. Os cristãos chamam isso de Encarnação do Verbo ou Natal do Senhor... Ele veio a nós e responde pelo nome de Jesus. Não é ele o filho de seu José carpinteiro e de dona Maria?
Quando esvaziamos o verdadeiro sentido do Natal, que é celebrar o nascimento do Menino; quando já não nos lembramos do aniversariante e colocamos no centro o que é periférico; quando o peru da ceia se torna mais urgente que a família reunida em torno da mesa; quando papai Noel ganha mais relevância que o presépio de Belém; então esta festa se torna tudo, menos que ela realmente quer ser.
No Natal a ternura nos visita... É Natal! Estamos dentro de sua oitava, o que quer dizer que este dia é tão importante para os cristãos que, por oito dias consecutivos, celebra-se um único dia. Melhor seria que estendêssemos a graça desse momento para o ano todo. Porque o Senhor sempre nasce em novos presépios de Belém que é aqui, nas pessoas mais necessitadas, nos que sofrem e precisam de ajuda... Natal não pode ser só um dia, para o bem que sequer damos conta de fazer!
O Menino Deus virá muitas vezes disfarçado neste novo tempo, baterá à nossa porta, nascerá de novo em pobrezinhas manjedouras e precisará de nós, de diferentes maneiras... Sejamos para Ele!
O Menino porá até nos lábios de quem deixou de sorrir, um novo sorriso! Porque dele se disse que quando nascesse faria brotar arroios no deserto, flores na estepe...

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 26 de dezembro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

sábado, 24 de dezembro de 2011

NOITE FELIZ

A todos um feliz Natal! E que não esqueçamos: o único sentido desta noite feliz é que nasceu o Salvador, Jesus!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

CÉU DA BOCA

Aqui as coisas não são o que são. Peço desculpas ao leitor! Nesta época do ano fico meio abstrato. Os nomes dizem caminhos de um paradoxo sem par. Que fazer? O sentido é invisível, porém largo, como se fora múltiplo caminho, ou mil caminhos que levam a lugares uno.
Nesta terra de movediços chãos, todos sentem o ósculo do fim das tardes – mais o gentil beijo da fria boca da noite.
A piedade dos homens daqui inspira voluntários que tiram ciscos dos olhos d’água e põem sapatos nos pés de vento. Eu rio de tudo isso!
O homem comprou a vida pelos olhos da cara e agora é cego para sempre (disso eu não rio!), anda a palpadelas, condenado a saber o mundo pelo tato. Escrevi isto noutro lugar. Eu às vezes me repito...
No canto do galo acumulam-se gestos e sons que trazem à tona nova manhã. Creio em novas manhãs. Por isso também canto...
Um deus habita o eterno céu da minha boca!

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

LUGAR

“Meu bem supremo é o lugar
onde sonhar é a máxima vigília.”

Adélia Prado
(Do poema "A noiva". In: "A duração do Dia". Rio de Janeiro: Record, 2010).

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A PULSAÇÃO DO MUNDO

De olhos fechados posso sentir a pulsação do mundo. Um espírito de lucidez me arrebata.
Ouço o coração do tempo e desmascaro os seus engodos. As horas não me enganam mais.
De olhos fechados, apenas a sensação de nada possuir além de ouvido e coração.
Está bom assim!...

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 12 de dezembro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

VITRINA

Do outro lado da vitrina vejo pessoas que se movem, falam mudas para mim. Ver seus gestos me fascina, especialmente porque não as ouço. Passa o metrô, eu o intuo por sua vibração escomunal. Há luzes e eu gosto delas. Uma fração de segundos me separa da chuva que cai. Gotas bailarinas me ludibriam e quando percebo sou o rio que corre veloz para o mar. A tarde ameaça cair infinitesimal sobre as cabeças pensantes do mundo. Eu não penso nada, por isso a tarde dura e eu posso sorver matizes de crepúsculo sem fim. As pessoas passam, sorriem, fazem mesuras para um rei imaginário. Transmudo-me em polichinelo. É absoluto o silêncio. A poesia deste instante alcança toda a minha vida.

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 05 de dezembro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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Para Luciano Luiz e José Gregório, meus confrades de Ordem, que de vez em quando desligam seus aparelhinhos auditivos.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

RELÓGIO DE PONTO – Alberto da Cunha Melo (1942 – 2007)

Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim os jogos,
a poesia, todos os pássaros,
mais do que tudo: todo o amor.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e atravessaremos os córregos
cheios de areia, após as chuvas.

Se alguma súbita alegria
retardar o nosso regresso,
um inesperado companheiro
marcará o nosso cartão.

Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim as faixas
da vitória, a própria vitória,
mais do que tudo: o próprio Céu.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e lavaremos as pupilas
cegas com o verniz das estrelas.

De Publicação do Corpo (1974)