segunda-feira, 2 de maio de 2011

LONJURAS

Poema destacado no XV Concurso Literário Internacional de Poesias, Contos e Crônicas ALPAS-M21

Padeço de lonjuras, como Manoel.
O nome dessa dor
Na minha pátria antiga
É saudade.

Eis que já se avizinha a chuva.
O céu está grávido de oblíquas grandezas
Cinzento como a primeira quarta-feira
Das quaresmas católicas.

Vai chover.

Eu desligo os aparelhos da casa.
Se faltar luz como ontem
Não terei perdas nem danos.

Vai chover.

E se apagarão as cinzas...
Mas ainda estarei escuro como o céu
Escuro como a casa
Grávido de infinitudes.

De minha raiz crescerá o silêncio.
Direi o inconfessável
Antes que a vida de mim parta
Em prestimoso alvitre.

Porém, quando da escuridão que estou
Brotar o poema – de lampejo ou
Chispo...
Quando isso acontecer
(Ah, todos hão de ver!...)
De uma só fagulha
O dia, grande, nascerá.

Antonio Fabiano

Um comentário:

  1. Jaécia Bezerra de Brito6 de maio de 2011 às 18:26

    Ao falar de chuva e gravidez, não posso deixar de mencionar as dores do parto do majestoso Gargalheiras, está sangra, não sangra. Pena que não consegue se desvencilhar da poluição. Olhando novamente a poesia o filho nasceu, úmido e carente, instalou-se pela casa, nem sei quando despertará do torpor desse nascer, ele, o silêncio, é um bom companheiro, e às vezes partilhamos da alegria irmã do orvalho.

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