sábado, 30 de abril de 2011

Comentário de C. Pastro sobre o seu trabalho

“Uma palavra sujeita-se a diferentes interpretações.
A imagem nos coloca diante de uma presença.”
São Gregório de Nissa, séc. IV


O que me inspira, o que me importa é a ação de Deus em nós e nossa relação com Ele. O que toca o meu coração é o ser humano enquanto ser religioso, lugar do Mistério, Criador-Criatura.

Trabalho especificamente com arte sacra há mais de 35 anos construindo e pintando igrejas no Brasil e exterior e, sem dúvida, meu incentivador foi D. Francesco Ricci, de Forlì, Itália.

Sou fruto do Concílio Ecumênico Vaticano II.
A Igreja sempre se manifestou pela Palavra-Imagem, Palavra Encarnada, palavra universal que fala ao mais profundo do ser humano, muito além da sensibilidade e da razão, pois, somos da mesma natureza do Mistério.

O trabalho com arte sacra é difícil porque nos exige forte e objetiva espiritualidade. Os traços, as cores, os sons... permitem o Espírito se manifestar ou trata-se apenas de um negócio humano. Arte Sacra é a forma do Espírito e não um tema religioso expresso subjetivamente.

Num mundo onde o Sagrado é excluído, o artista cristão presta um serviço (ministério) e deve ser ponte entre Deus e os homens; seu trabalho é mistagógico.

C. Pastro
abril/2011

quarta-feira, 27 de abril de 2011

URBANO MEDEIROS

Fotografia de Glauco Ferreira

Caros amigos,
está aí um artista de rara grandeza, um tipo humano excepcional. É meu conterrâneo e atualmente vive aqui em Minas. Ele passa, no momento, por uma fase bem delicada e sua saúde anda comprometida. Visitem seu site, façam downloads de suas músicas etc. Mas gostaria que também o ajudassem, adquirissem seus CDs e livros... Obrigado!




BIOGRAFIA DE URBANO MEDEIROS
Urbano Medeiros (*31/10/1956) é um saxofonista reconhecido internacionalmente.
Nasceu numa família judaica na região do Seridó (RN). Aos sete anos de idade, o garoto já tocava saxofone soprano na filarmônica de sua cidade. Seu principal impulsor na carreira musical foi o pai, Bill Medeiros, que o instruiu nas primeiras lições.
Neste tempo, Urbano já chamava a atenção do público por onde se apresentava, uma vez que executava melodias de um nível bastante difícil. Com tanto talento, ele ficou marcado na música por intermédio do acordeonista Sivuca, que conheceu num concerto musical em São João do Sabugi.
Ainda adolescente, com 17 anos, foi nomeado pelo Ministério da Cultura como “o maestro mais jovem do Brasil”, já que era regente da Filarmônica do Colégio Estadual de Caicó. Aos 18 anos era o primeiro saxofonista do Batalhão de Engenharia de Construção (BEC), ainda em Caicó (RN), e depois em São Gabriel da Cachoeira (Amazonas). Suas profissões foram as mais diversas. Após ter morado muitos anos em São Paulo, pôde experimentar ser radialista, ator, arte-educador e comunicador; além de apresentar-se como músico instrumentista erudito.
Urbano Medeiros é casado e tem três filhos e um neto. Já passou por quase 5.000 cidades do Brasil e do mundo divulgando a nossa cultura e tocando músicas com finalidades terapêuticas para pessoas doentes. O musicista corre mundos com o objetivo de levar, ao vivo e pelos meios de comunicação, a sua prática artística. Suas obras - vinte CDs, seis DVDs e dois livros - viajam pelos quatro cantos da terra. Países como o Brasil, USA, Canadá, Argentina, Itália, França, Suíça, Portugal, Lituânia, Ucrânia, Iraque, Afeganistão, Rússia, Egito, Israel, Líbano, Síria e outros já ouviram falar neste artista de Deus.

[Biografia tal como consta em seu site. A reprodução do texto e das fotos foi autorizada.]

segunda-feira, 25 de abril de 2011

AFORÍSTICOS (II)

O drama do mundo sobre nós ou em nós é fartamente assimilado no prazer ou na dor de ser o que somos e como aqui estamos. Entre estes dois extremos de ser-se e sentir-se assim, havemos de considerar uma via intermédia que pode ser mais cabalmente demonstrada pelo modo de vida dos humanamente experimentados. Estes não são nem serão como os muitos.
Então podemos nos perguntar que coisa é a vida para além desta ponta de iceberg que tão vaga e esparsamente conhecemos; ou se esta vida se perde na bruma do simplesmente estar aqui; ou ainda se ela se confunde com o acidental existir agora assim.
O homem hodierno – isto é fato consumado e já muito vulgarmente dito – fragmentou-se; foge de si mesmo inteiro, por autonegação do antes e do depois por ele não mais crido; não se aceita e burla em sonhos sua essência, pensa e crer-se outra coisa totalmente outra. Estará certo?
Emancipamo-nos de tudo, inclusive da velha e enfadonha moral que por séculos erigiu mundos. Basta que olhemos para a figura mais comumente representativa do ser-se contemporâneo e constataremos isso. Mas com o que ficamos?
Esbanjamos um superficialíssimo tudo de coisas, tornamo-nos enciclopédicos ao toque de um botão, reproduzimos de modo não reflexivo qualquer ideia e logo esvaziamos o pequeno cérebro – não dilatado pelo exercício de sua mais nobre função – para dar lugar, de acordo com as situações e necessidades, a novas e infinitas necessidades.

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 25 de abril de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

sexta-feira, 15 de abril de 2011

AFORÍSTICOS (I)

As obras dos homens não cessaram de crescer, ainda mais desde o surgimento deste admirável mundo novo. São inauditas suas façanhas, verdadeiramente grandes, no bom e mau sentido. (Atravesse, em seu pensamento, à guisa de sinóptica recapitulação, tão somente o século XX e o albor do século XXI...) Algum tempo viu ou foi capaz de sonhar o que os nossos olhos hoje veem?

O homem é, sem dúvida, um animal imprevisível. Só dele podemos esperar o inesperado. (Deste serzinho espera-se tudo, inclusive nada!) Por isso não me espanta que quase sempre nele estejam de mãos dadas o melhor e o pior.

Mas esta assombrada criatura é ainda um ser de esperança. Pode inclinar-se à realização máxima – própria e possível – de seu ser.

Se às vezes perverte-se, como quando é capaz de violências extremas (tem-se exemplo recente disso...), o verdadeiro bem nos é ainda possível. Há, portanto, a plausibilidade de uma pura e gratuita harmonia nas relações universais.

...

Em escala menor, todos nós reproduzimos de alguma forma em nós mesmos e em nossa completa existência fenomênica os dramas do mundo. Em nós mesmos, quero dizer, em nosso ser uno, reflete-se o mundo, tal como um espelho reproduz a imagem do que a ele se contrapõe. Estas coisas não são a mesma coisa, pois distintas hão de ser a coisa em si mesma do espelho, a do que a ele se contrapõe, e a própria imagem nele refletida. Isto é presumível, tanto mais se somos capazes de tão vasta e calidoscópica refratação.

A nossa experiência pode ou não manifestar, por meio de atos concretos, aquilo que nos afeta e o que queremos ou, em mais preciso rigor, podemos querer. Meus atos também são o que sou, com o que de fora de mim se coloca a mim de modo efetivo ou se interpõe entre mim, meu agir deliberativo, e o mundo fora de mim sem minha direta influência.

Assim, os dramas do mundo são sua história e, mais claramente, o presente carregado da sua escomunal ancestralidade. Este presente engendra-se pela causalidade da própria origem próxima e remota, e tem-se a si mesmo prenhe de um sempre promissor porvir. A isto chamamos abstratamente de futuro.

Em curso nos situamos, como protagonistas de nossa própria existência – assim o cremos, naturalmente – ou como meros coadjuvantes de um evento maior. Simultaneamente somos, com maior ou menor intensidade, protagonistas e coadjuvantes. Pois de quem se poderá dizer apenas uma destas coisas?

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 15 de abril de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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EXCEPCIONALMENTE HOJE ANTECIPA-SE A PUBLICAÇÃO DE SEGUNDA-FEIRA.

ÍCONE

O céu e Deus cabem sim
Nas tintas de um pintor
Porque não é um azul qualquer
O de Rublev.

Antonio Fabiano
Direitos reservados

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A EGIPCIANA

Santa Maria Egipcíaca...
... antes de tudo é uma mulher do século V. E venerada como santa desde então. O nome diz de onde ela vem. Mas o que ela foi... Eis a questão!
Não sou hagiógrafo. Nem os hagiógrafos sabem muito dela. O que ninguém duvida é que (se não nasceu santa...) tornou-se santa! Mas como disse, não sei muito de si, sei de suas lendas. Uma delas é que antes exercera a profissão mais antiga do mundo segundo alguns, ou seja, era mulher da vida, um eufemismo para falar de sua possível prostituição.
Um dia esta Maria do Egito viu um barco com muitos homens. Queria fazer a travessia do rio para ganhar, digamos, a vida. Tantos homens... que lucro! Mas ao entrar no barco descobriu que eles eram cristãos. Que azar! Grandíssima sorte! Ela viu neles tão subido testemunho, e sentiu-se tão respeitada em sua condição de mulher, que chegou à outra margem já totalmente transformada!
Tá. Mas há quem diga que pra fazer caridade ela vendia mesmo o corpo. E pra passar à outra margem entregava-se aos barqueiros. Tipo os meios justificam os fins! Claro que a santa não seria santa se agisse assim, ao menos pra Igreja. Mas essa versão imaginária é muito interessante, e algo parecido levou Manuel Bandeira a escrever sua famosa “Balada de Santa Maria Egipcíaca”. Por causa desse poema, muitos poetas – inclusive eu – escrevemos qualquer coisa análoga. Não é plágio, não! Isso em teoria literária se chama intertextualidade, coisa muito fina, que pode dar certo ou terrivelmente errado. Se o poeta for ruim, o tiro sairá pela culatra! Se o poema se sair bem – às vezes até subvertendo o sentido original dos versos que o inspiram –, significa que ele dialogou com o texto já consagrado e com o seu autor.
A Santa inventada me inspira mais devoção! A da balada...
É ler pra crer...
Crer e amar!

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 11 de abril de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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Para Pati, Alessandra... Jaécia e Simone.
Boa semana para todos!

BALADA DE SANTA MARIA EGIPCÍACA – Manuel Bandeira

Santa Maria Egipcíaca seguia
Em peregrinação à terra do Senhor.

Caía o crepúsculo, e era como um triste sorriso de mártir...

Santa Maria Egipcíaca chegou
A beira de um grande rio.
Era tão longe a outra margem!
E estava junto à ribanceira,
Num barco,
Um homem de olhar duro.

Santa Maria Egipcíaca rogou:
– Leva-me à outra parte do rio.
Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.

O homem duro fitou-a sem dó.

Caía o crepúsculo, e era como um triste sorriso de mártir...

– Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.
Leva-me à outra parte.

O homem duro escarnece: – Não tens dinheiro,
Mulher, mas tens teu corpo. Dá-me o teu corpo, e vou levar-te.

E fez um gesto. E a santa sorriu,
Na graça divina, ao gesto que ele fez.

Santa Maria Egipcíaca despiu
O manto, e entregou ao barqueiro
A santidade da sua nudez.

Manuel Bandeira

sexta-feira, 8 de abril de 2011

CÉU DE ESTRELAS

Egipcíaca e Santa.
Era mulher e
ardia de outro amor
quando deu seu corpo a Deus
e ao gozo alheio
(de homens)
p’ra salvar o mundo.
Caía o crepúsculo
como manares do céu...
Atravessar o rio –
tão longe a outra margem!
Era mulher e
ardia de amor.
Despiu-se...
– Ó barqueiros, atravessemos!
Egipcíaca e Santa
anoiteceu.

Antonio Fabiano
Direitos reservados

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A SEMANA PASSADA A LIMPO

29 de março de 2011, terça-feira. O Brasil vestiu-se de luto pela morte de José Alencar. É certo que todos os meios de comunicação do país e do exterior falaram, esta semana, do menino pobre, saído de um povoado encravado na Zona da Mata mineira, Itamuri, no município de Muriaé, que se fez empresário de sucesso, isto é, rico, muito rico, e que, na maturidade, entregou-se também à vida da política, vindo a ser – por duas gestões consecutivas da presidência da república – o ilustre vice do governo Lula, numa chapa de união histórica entre trabalho e capital.
Tanto alardeou a mídia suas virtudes heroicas na política e a maneira como assumiu publicamente a luta contra o câncer, que eu pouco ou nada mais direi do egrégio homem.
Mas de supetão encontramo-nos quinta-feira passada! Credo! Conto-lhes...
Depois das homenagens em Brasília, seu corpo veio para ser velado e cremado na capital mineira. “Ah, os grandes, enormes cadáveres de Minas!”, escreveu-me de manhã um querido amigo. Eu lhe havia dito que aqui aportariam também, naquele mesmo dia, o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma Rousseff.
Belo Horizonte parou, por Alencar. Dizem que, quando o esquife atravessou a cidade, fez-se um silêncio incomum no agitado centro da capital. Populares acorreram ao Palácio da Liberdade, para o último adeus. Eu, não. Terá sido castigo, então, o que me aconteceu?
Era quinta-feira, 14h mais ou menos, um sol de rachar, eu estava atrasado e ia totalmente esquecido dessas coisas, quando avisto em meu caminho, de forma repentina e para a perpétua memória das retinas fatigadas, uma soberba escolta oficial – helicópteros, muitas motos e carros etc. No meio deles o veículo fúnebre, um Cadillac 1974, impelido pelos cadetes do Exército e da Aeronáutica, e por soldados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Que susto! Abanou-me o vento de uns poucos segundos daqueles últimos do cortejo que eu nem planejara ou quisera ver. Baixei os olhos e timidamente segui meu caminho, enquanto repetia o irônico espanto de meu velho e mais que sábio amigo: “Ah, os grandes, enormes cadáveres de Minas!”...

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 04 de abril de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com
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JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA (1931-2011)