segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A DÉCIMA PRIMEIRA PRAGA

Ditadores são tipos humanos que dão náusea, talvez a condição de existir mais vil. Eles incorporam um dos muitos lados sombrios que há no humano decaído, fingem-se de bonzinhos, mas são miseravelmente egoístas, perversos. Ditadores estão sempre aí, e fazem mal na mesma proporção do poder que têm ou lhes damos. São seres tangidos por aberrantes loucuras, que não poucas vezes se tornam coletivas, obcecados pelo poder de poder sempre mais. Ditadores alimentam-se de mentiras e estão dispostos a qualquer meio para os fins que lhes agradam e dão vantagem.
Um déspota torna-se ainda mais digno do nosso desprezo quando é sínico o bastante para não admitir que sabe que sabemos que ele finge que não sabe que é perdedor desde o início. Alguns talvez acreditem que são assim, onipotentes, mas isso já é parte da própria loucura.
Quando podem, eles se perpetuam no poder, porque pensam que são eternos – é incrível, mas quase todos eles pensam que são eternos – e se não morrem, além de serem os únicos capazes de governar o mundo, eles, obsequiosos, obrigam-se a ficar firmes no posto, contra tudo e contra todos. Os mais lúcidos, ao se darem conta de que também hão de passar, arquitetam sucessões.
Mas o fim dessa gente horrenda, com poucas exceções, é o porão da história. E, logo, uma ou duas páginas de vergonha nos livros. Depois que caem, quando ainda subsistem quais cadáveres adiados, ditadores ficam com medo, muito medo, mais do que o que sentem enquanto estão no poder e podem dar-se ao escopo de seus delírios. O medo deles é mil vezes maior que o das vítimas subjugadas, torturadas etc. É o caso dos tiranos que fizeram as ditaduras na América Latina, em tempo próximo do nosso, se quiserem lembrar, particularmente a do meu país. Ao término do engodo, os covardes algozes e dissipadores de “subversão” fogem como ratos para os esgotos, e ficam à espera da morte benfazeja que os liberte do inferno de suas próprias consciências. Se houver outro inferno, muito provavelmente é para lá que eles vão ou ninguém mais vai.
Quando o povo quer democracia, acontece isso que vemos em tantas partes do mundo e agora também no Egito (o que é apenas uma situação emblemática, muito mais complexa em sua natureza política): um abortivo agarrando-se desesperadamente ao poder, insistindo em governar um povo que não quer ser governado por ele, um povo que nunca o amou e já não o teme. Cedo ou tarde caem os faraós. A décima primeira praga do Egito grassa nas ruas do Cairo e em todo o orbe. É sublevação. Leiamos os sinais dos tempos...
Ditador é um sujeito burro, que não pode ser Josué e Deus, nem poeta, mas que mesmo assim insiste em tentar fazer o sol parar no meio do céu e impedir que as águas corram para o mar. Nos governos, nas repartições públicas, nos bares, igrejas e até mesmo em casa podem existir miniaturas, réplicas patéticas dessa aberração do mal. São déspotas mais ou menos desvelados na sua respectiva dose de poder. O fenômeno às vezes ocorre até em democracias... E, com poder nas mãos, qualquer um pode ser acometido por tal moléstia. Talvez você conheça alguém assim, talvez pensem o mesmo de nós... Espero que não.

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 07 de fevereiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

3 comentários:

  1. Parabéns pela crônica.Muito bem elaborado do raciocínio; nos leva a pensar em muitas coisas, não somente no âmbito politíco, mas também no nosso dia-a-dia. Um grande abraço meu caro amigo.Fellipe Toledo.

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  2. "O fenômeno às vezes ocorre até em democracias..."

    Democracia travestida de ditadura! Até que ponto vivemos em regimes democráticos? Esse questionamento subitamente se eleva em meu pensamento!

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  3. Sabemos que é mais uma cópia de nossa história mundial. Políticos que se erguem, caem, erguem novamente e caem novamente. A história sempre se repete, com hérois e vilões.
    Sabemos que por trás de tudo isso há um vilão maior que não faz parte do País em questão. Mas está sempre se fazendo presente lá e em outros lugares também.
    A questão é quando este vilão principal terá a sua queda também!
    Macister Anderson Medeiros da Silva

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