segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

ABUNA BATRIK NA TERRA DOS FARAÓS


Frei Patrício Sciadini, Carmelita Descalço.

Frei Patrício Sciadini, meu confrade, italiano e brasileiro, arauto do Carmelo, consagradíssimo neste país onde é amado e querido por toda a gente... de repente foi-se embora pro Egito!
Era seu sonho evangelizar na África, dizem, talvez não aquela do Norte, “branca”; mas para lá se foi, porque ele, Deus e o Padre Geral da nossa Ordem quiseram. O povo do Brasil não gostou e reclama ainda hoje de saudades. Todos o querem de volta. Um dia ele volta, gente!...
No Cairo temos convento e obra social. Em vista disso nosso irmão partiu, por indeterminado tempo, para viver abscondito cum Christo in Deo na terra dos faraós.
Frei Patrício se tornou “Abuna Batrik”, tal como assina nas notícias que me manda de lá.
Aqui ele publicou dezenas de livros, não sei quantos, nem ele sabe quantos, talvez cem ou mais; e vivia pregando para pessoas de todas as partes. Sabe lidar, meu velho irmão, com grandes públicos e as novas mídias. Avião era seu ultramoderno convento móvel, no ir e vir desta apostolicidade que tanto bem faz ao povo nos claustros do mundo. Mas, acreditem, chegou aqui de navio, num sete de setembro de mil novecentos e não sei quando, achando que toda aquela festa da Independência era pra ele!...*
Frei Patrício, nosso “abuna”, escritor inveterado e conferencista das nações, reside agora num lugar de língua que lhe parece indomável para escrever e falar. Escolheu tornar-se apenas o que é mais importante e ninguém vê: sal da terra e luz do mundo. Sim, pois cristãos dão sabor e brilham alto, até do fundo de seus escondimentos!...
Uma vez chegou de surpresa ao nosso convento. Era hora da refeição e dia de silêncio. Quebraram-se os protocolos, porque nenhuma observância é maior que a alegria de receber um irmão. Ele atravessou o refeitório, cumprimentando-nos um a um com seu sotaque inconfundível. Ao chegar ao lugar do último frade, imediatamente voltou, já se despedindo de todos, no mesmo ritual de apertar nossas mãos, e partiu. Estava indo ao Nordeste do Brasil, falar para jovens.
Veio a calhar de estar no Cairo exatamente no momento histórico em que o povo levantou sua voz contra o homem que ditou o Egito por quase trinta anos. Ele e a comunidade passaram maus bocados no auge da insurreição.
Quando caiu o ditador na última sexta-feira, depois de dezoito dias de intensos protestos acompanhados pelos olhos de todo o mundo, o povo egipciano cantou alegre pelas ruas e abraçou seus soldados. Nosso “abuna” ficou feliz pelo fim do conflito e das violências, e escreveu ao Brasil sobre as esperanças que pairam por lá: “A pomba da paz está voando de novo no céu do Egito. (...) Esperamos agora que a passagem à democracia seja serena e tranquila, que a consolidação da democracia não tarde a vir e que o exército possa garantir o bem e a paz do povo. Este povo que com seu anseio já entrou a fazer parte da minha vida e história, possa caminhar com a sabedoria milenar que o sustenta, rumo a uma nova fase de sua história.”
É o que também queremos, Abuna Batrik!...**

Antonio Fabiano
Belo Horizonte, 14 de fevereiro de 2011.
Blog: www.antoniofabiano.blogspot.com
E-mail: seridoano@gmail.com

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* Frei Patrício chegou ao Brasil em 7 de setembro de 1973. O porto do Rio realmente estava em festa, mas para a Pátria que logo seria sua.
** Este “abuna” tem sido muito duro com o fradezinho que vos escreve!... Semana passada leu minha crônica e disse que eu devia pôr mais sementes do evangelho nos textos, além de frases dos nossos santos carmelitas que são os melhores do mundo! Ao ler o presente artigo censurou-me ainda mais severamente pela falta de pudor ao falar de si. Escreveu-me dizendo que redimensionasse as “besteiras desnecessárias e elogios que para nada servem”. Como nem só de coisas muito sérias vive o homem, não obedeci.

Um comentário:

  1. “Todo bom alemão, a exemplo de Bento XVI, gasta poucas palavras para dizer o que pensa.” (Frei Patrício Sciadini)

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