sábado, 28 de agosto de 2010

O QUANTA QUALIA SUNT ILLA SABBATA


Pedro Abelardo (1079 - 1142) e frontispício de um dos seus livros - figuras disponíveis na Web.

Há algum tempo o amigo Cleber José me enviou um poema de Pedro Abelardo, pedindo que eu o traduzisse do latim para o português. Não sei o que ele queria exatamente com isso! Este amigo é músico profissional, receio que tenha descoberto o texto a partir de alguma partitura antiga... Ele me enviou o poema em latim truncado. Depois, outra versão. As versões diferiam ligeiramente, como é comum em textos que ao longo dos séculos passaram pelas mãos de tantos copistas. Fiz o que pude, está aí meu contributo! Lamentavelmente, as rimas do original foram sacrificadas. O poema ficou branco, mas salvei a métrica em razoáveis decassilábicos. A composição fala sobre o dia perfeito, o Sábado eterno da alegria! Esse Sábado e a Jerusalém celeste se imbricam. Há quem acredite que esta é a expressão mais bela e comovente de toda a poesia cristã, sobre o referido tema. Tentei passar isso na minha despretensiosa versão! Queria isentar-me dessa culpa, mas não encontrei em português qualquer vestígio de uma outra tradução que nos socorresse. Há admirável versão feita para a língua inglesa. De John Mason Neale, 1854.


Este Abelardo é o célebre teólogo e filósofo do século XII. Um dos homens mais notáveis de toda a Idade Média e que, aliás, não se enquadrou em nenhum dos estereótipos do seu tempo. Hoje ele é mais lembrado, entre o povo comum e nos filmes, por sua trágica história de amor com Heloísa. Abelardo foi castrado por causa desse envolvimento amoroso com a mesma. Ela, então, entrou para um convento e ele encerrou-se num mosteiro. Há muitas lendas envolvendo estes amantes. Do relacionamento pretérito lhes nasceu o filho Astrolábio.

Vejamos a tradução do poema...

O QUANTA QUALIA SUNT ILLA SABBATA
Original latino de Pedro Abelardo (1079 - 1142)
Versão em português de Antonio Fabiano


Oh, quão ditosos são, pois, estes sábados:
Os celebrados na sublime corte!
Folga aos cansados, dádiva aos valentes,
Em todos, tudo, faz-se Deus presente!

Ah, sim, Jerusalém, cidade santa,
Regida pela paz, suma alegria!
Onde o desejo não precede a coisa,
E o prêmio vindo é mais que se antevia!

Que Rei, vetusta corte, que palácio!
Que paz, que alegria, que repouso!
Quem parte tem na glória dos partícipes
Mais sinta e veja dito o inexprimível!

Assim, em nossa espera, suba a mente...
Estes pátrios desejos mais prosperem!
E à Jerusalém voltem do exílio,
Os que muito esperaram em Babilônia!

Já terminada, enfim, toda labuta,
Entoaremos cantos de Sião!
Contínuas graças, por tão grandes bens,
Prorromperão do povo, a Deus subindo!

Com louvação perpétua e alegria,
Celebraremos sábado após sábado!
Sob inefável júbilo eternal,
Nós cantaremos junto aos anjos todos!

Do eterno Deus, contínua seja a glória,
De quem, por quem e em quem são todas coisas!
Daí ao Pai, e dele e nele o Filho,
De quem por meio vem o Espírito. Amém.

Um comentário:

  1. Adorei esta tradução! Estava procurando uma tradução por causa da versão musicada desse poema "O Quanta Qualia" da Azam Ali! Obrigada :)

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